Projetos imobiliários buscam identificar gosto local

Alguns empreendimentos não destoam dos prédios da vizinhança, mas se confundem com a paisagem, são parte dela. Eles buscam na identificação local seu diferencial no mercado, abarrotado por lançamentos de todas as tipologias e padrões. Algumas vezes, apostam em referências históricas. Em outras, tentam flertar com comunidades que ocupam ou ocuparam região.

De um antigo armazém para estocagem de café na Vila Matias, em Santos, sobraram as paredes de tijolos em formato triangular onde devem ser erguidos os lançamentos Fusion e Trend, da incorporadora PDG. “Os galpões daquela área tinham características bacanas e decidimos mantê-las”, diz o diretor de incorporação da empresa, Eduardo Machado.

De acordo com ele, os projetos devem respeitar as características de cada região. “O mercado imobiliário faz isso com maestria. Não se pode ser invasivo, achando que vai mudar todo o perfil da área.” Os dois projetos não se restringem ao tradicional. Eles tentam seduzir também os novos moradores da cidade, atraídos pela produção do pré-sal no litoral brasileiro.

Luz da Mooca (Foto: Divulgação)

O Luzes da Mooca, lançado em 2010 pela incorporadora Cyrela Brazil Realty, tem estratégia semelhante ao produto santista. O projeto preservou a chaminé da antiga Companhia União dos Refinadores, que funcionava no terreno onde o empreendimento será instalado – parte do bairro, tomada por indústrias por anos, agora dá lugar a edifícios de perfil familiar.

“Já que a cidade muda o tempo todo, dá para tentar manter algum aspecto”, diz a diretora de marketing da imobiliária Abyara Brasil Brokers, Paola Alambert. Ela conta que o estande de vendas do empreendimento foi montado próximo à chaminé, aproveitando o apelo da peça, que será rodeada pelas torres do conjunto quando o condomínios ficar pronto, em 2013. “A Mooca é um bairro de pessoas muito apegadas à região. A maioria dos compradores é de lá.”

Proximidade. Segundo o diretor de atendimento da imobiliária Lopes, Cyro Naufel, mais da metade dos consumidores de um lançamento frequenta áreas em um raio de até cinco quilômetros do edifício que pretende comprar. Por isso, ele considera importante respeitar o ambiente onde o potencial cliente está, especialmente quando as características locais são marcantes – caso do Bixiga, com sua origem italiana, e da Liberdade, com sua a tradição oriental.

Algumas edificações das antigas indústrias Matarazzo na região da Barra Funda também foram preservadas no empreendimento Casa das Caldeiras, da incorporadora Helbor. “Isso nos ajudou muito. Trouxemos esse passado e acabamos sensibilizando muita gente, até pessoas que tiveram parentes trabalhadores da indústria”, diz o diretor de vendas da empresa, Marcelo Bonanata. “Se viéssemos com muita modernidade, não teríamos dificuldade de vender, mas o projeto teria perdido”, opina.

A incorporadora Alfa Realty, focada em empreendimentos de nicho, tenta resgatar em seus projetos aspectos da lembrança dos moradores dos bairros onde investe. Na zona oeste, a empresa tem o lançamento London Lapa, apostando em uma arquitetura que faz referência a aspectos da cultura inglesa.

Antes da ocupação italiana, a Lapa recebeu imigrantes britânicos para a operação da antiga estrada de ferro São Paulo Highway, que até hoje corta a região. Na primeira metade do século 20, o bairro recebeu ainda funcionários da empresa de urbanização Companhia City.

“São coisas que ficam na memória coletiva. As pessoas têm lembranças sobre as fábricas, São fragmentos de memória que trazemos para o empreendimento”, diz o sócio fundador da empresa, Eudóxios Anastassiadis.

A Alfa Realty realizou uma série de entrevistas com moradores da região para coletar histórias que inspirassem o conceito do projeto. Vivendo a maior parte de 68 anos na Lapa, o empresário Wilton Ferro foi uma das pessoas ouvidas pela incorporadora: “Até 1958, quando me lembro, os ingleses ainda estavam lá. Havia muitos na parte de manutenção”, conta.

O resultado das conversas locais resultou principalmente em referências visuais no edifício London Lapa. A fachada do prédio é revestida com tijolos a vista, e as janelas, cobertas com toldos, são mais altas, com base a apenas 40 cm do chão.

Por Gustavo Coltri

Fonte: Agência Estado

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