Terrenos da zona sul da capital são alvo de cobiça

A simples expectativa de prolongamento da Avenida Doutor Chucri Zaidan, na zona sul de São Paulo, movimenta fortemente as incorporadoras para a aquisição de terrenos na Chácara Santo Antônio, que deve dar continuidade à faixa corporativa de alto padrão da cidade. Agora, os moradores do entorno do Morumbi Shopping convivem com o crescente assédio das empresas, ávidas por áreas para a instalação de novos edifícios.

Dono de um sobrado na Rua Henri Dunant, o empresário Felipe Pugliese, de 48 anos, estabeleceu há oito meses o primeiro contato com uma grande incorporadora interessada em comprar seu imóvel, com terreno de 150 metros quadrados. “Para fechar meia quadra, eles fizeram proposta para 12 casas na minha rua, mais 12 na rua de trás (Enxovia, onde um novo edifício também está sendo construído). Inicialmente ofereceram R$ 5 mil por m²”, conta o empresário. Ele e os vizinhos negaram a oferta por a considerarem baixa demais.

“Aqui do lado, estão vendendo por R$ 12 mil o metro quadrado de um edifício em construção. E, na mesma quadra, um terreno foi vendido por R$ 8 mil.” Em março, Pugliese recebeu uma nova proposta, mas também a considerou insatisfatória porque a empresa, segundo ele, ofereceu a troca do imóvel por uma unidade em um empreendimento na região da Vila Sônia, do outro lado do Rio Pinheiros, no entorno do Morumbi.

“Não aceito permuta, porque os imóveis estão sobrevalorizados. Se não vendermos, já haverá valorização e a possibilidade de locação comercial.” O empresário, em alinhamento com seus 11 vizinhos, pede R$ 9 mil pela metragem do terreno e avisa: o preço de venda pode chegar a R$ 10 mil, caso a negociação com a companhia se arraste.

Na mesma rua, bem na esquina do novo trecho da Chucri Zaidan, a construtora Trisul adquiriu um terreno de 3.046 m² onde prevê o lançamento de um residencial de 288 unidades compactas para o mês de outubro. Antes, a empresa negociou por um ano até fechar negócio com os 20 proprietários das casas da área. “Foi bastante difícil. Nesse caso, demorou um ano, mas não demora menos do que sessenta dias”, diz o diretor de incorporação da empresa, Arturo Rondini.

O contato com os proprietários ocorre, segundo ele, por meio de corretores especializados nesse serviço. “Alguns têm até equipes de psicólogos. É preciso estabelecer com as famílias uma relação de confiança, porque a venda de um imóvel não é só questão de dinheiro. Tem um aspecto emocional.”

A portuguesa Maria da Assunção Martins, de 77 anos, ainda não chegou a um acordo para vender o bar de sua propriedade na esquina da Henri Dunant com a Rua Amaro Guerra. O estabelecimento está cercado de ambos os lados por um terreno onde futuramente será erguido o empreendimento comercial HD 873, das construtoras Halna e Luciano Wertheim.

Maria chegou ao bairro em 1963 e viveu por lá 18 anos à frente do pequeno bar até se mudar para Interlagos. “Tinha muitos fregueses da Monark”, conta, lembrando da fábrica nas proximidades e que hoje cedeu lugar a um terreno pronto para receber torres da Odebrecht Realizações Imobiliárias.

O estabelecimento foi alugado a um comerciante e, no momento, não há um contrato de locação, de acordo com a proprietária. “Ele paga direitinho, mas está sem contrato porque nem sei o que vai dar ali”, diz.

Cuidados. A especialista em direito imobiliário Katia Millan, do escritório Moreau & Balera Advogados, recomenda que os proprietários avaliem a solidez das incorporadoras no mercado sempre que receberem propostas tentadoras das empresas.

“O vendedor deverá levantar as informações societárias da incorporadora, quem serão os parceiros dela no projeto imobiliário, em quais outros empreendimentos a empresa participou, se há reclamação na internet, se há processos junto aos cartórios distribuidores”, enumera.

Caso a negociação evolua, a advogada indica também a procura de um profissional capaz de dar auxílio aos proprietários no levamento de outros documentos. “Um trabalho de prevenção bem realizado pode evitar muito desgaste no futuro.”

Fonte: Radar Imobiliário / Estadão

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