Apartamento de R$ 11 milhões em Ipanema tem 280 m² e vista para o mar. Pelo mesmo valor, imóvel ao lado do Parque do Ibirapuera possui 578 m².
O metro quadrado de um apartamento de frente para a praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, pode custar mais do que o dobro do de um imóvel de alto padrão na Vila Nova Conceição, bairro mais caro de São Paulo. A combinação de ingredientes, como apelo turístico internacional, pouca oferta de terrenos e alta demanda, ajuda a explicar por que o metro quadrado mais caro do Brasil fica na capital fluminense.
Apartamento na Vieira Souto, com 280 m²,
está à venda pela Sapiens Exclusive por
R$ 11 milhões (Foto: Divulgação)
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“O Rio de Janeiro é procurado pelo paulista, pelo carioca, pelo goiano, pelo mineiro, pelo baiano. A gente está vendendo Ipanema e Leblon para todos esses caras e também para o francês, o italiano e o chinês”, diz Luigi Gaino Martins, diretor da imobiliária Lopes Rio. “O Rio tem uma força de apelo muito forte que não é regional.”
Para o executivo, “isso não é mercado imobiliário, é imóvel de luxo”. “Quer morar numa das cidades mais bonitas do mundo, quer comprar um bom imóvel? Então, tem que procurar bastante e, daí, tem que pagar por isso. A praia de Ipanema é um símbolo”, comenta.
Segundo Martins, a esse cenário, soma-se o fato de a situação socioeconômica do Rio ter mudado bastante nos últimos anos. “Aqui também estão ganhando dinheiro”, fala. “Tem também a questão da escassez. A gente está vendo o estoque de imóveis com qualidade na região diminuindo de volume.”
Embora, na média, o metro quadrado mais caro do país esteja no Distrito Federal, tanto com relação a apartamentos prontos, de acordo com o Índice FipeZap, como em relação aos lançamentos, segundo estudo da área de Inteligência de Mercado da Lopes, é no Rio que o metro quadrado atinge seu pico.
Em Ipanema, por exemplo, o preço mediano do metro quadrado de lançamentos ao longo de 2011 chegou a R$ 35.660, segundo dados do Anuário do Mercado Imobiliário Brasileiro, da Lopes. No Leblon, o valor cai para R$ 17.900 – mas ainda muito acima da média do metro quadrado do país, que é de R$ 4.630.
Apesar dos números exorbitantes, na média dos lançamentos, o preço do metro quadrado no Rio de Janeiro – que foi de R$ 4.660 – ficou em 11º no ranking elaborado pela Lopes, atrás até do de cidades do interior de São Paulo, como Santos (R$ 6.390/m²) e Campinas (R$ 5.040/m²).
“Isso ocorre porque existe uma dispersão importante dos imóveis no Rio, a base da pirâmide social é muito grande”, comenta Martins.
Apartamentos prontos
Apartamento na Vila Nova Conceição,
à venda por R$ 11 milhões na Coelho da Fonseca,
tem mais que o dobro do tamanho
do imóvel do Rio (Foto: Divulgação)
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Com base nos dados de maio do Índice FipeZap, desenvolvido e calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), e que acompanha o preço médio do metro quadrado de apartamentos prontos em seis municípios brasileiros e no Distrito Federal, divulgados nesta terça-feira (5), o custo do metro quadrado no Leblon é de R$ 17.730, e o de Ipanema fica em R$ 16.890.
Em termos gerais, o Rio aparece em segundo lugar com relação ao custo médio do metro quadrado, que sai por R$ 7.991, atrás apenas do Distrito Federal (R$ 8.254/m²), e imediatamente à frente de São Paulo (R$ 6.448/m²).
“O Rio é uma cidade conhecida no mundo inteiro, graças ao turismo. Outro fator importante é a referência da praia, que agrega valor. Por outro lado, especialmente Ipanema e Leblon, não têm mais terrenos. Quando, em raras ocasiões, acontece um empreendimento de frente para o mar, significa que derrubou alguma coisa e, via de regra, os terrenos são pequenos”, diz Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp).
Rio x São Paulo
Para entender melhor esses números, basta, por exemplo, comparar um apartamento à venda num dos bairros mais valorizados do Rio, com algo similar na cidade de São Paulo.
Por R$ 11 milhões, é possível comprar um imóvel na Avenida Vieira Souto, em frente à praia de Ipanema, de 280 m² de área construída, com 4 quartos, sendo 2 suítes, e 2 vagas de garagem.
Com o mesmo valor, em São Paulo, o comprador poderia fechar negócio em um apartamento de 578 m² – mais do que o dobro do tamanho do imóvel do Rio –, com 4 suítes e 6 vagas de garagem na Vila Nova Conceição, que, localizado ao lado do Parque Ibirapuera, é o bairro mais caro da capital paulista.
“Em São Paulo, você tem bairros que ainda têm terrenos grandes, que comportam empreendimentos grandes. Uma parte do luxo está na região do Morumbi e esse luxo se caracteriza justamente por imóveis com mais de 1.000 m² de área privativa. No Rio, um apartamento excepcional terá 300 m², quando muito 400 m²”, diz Pompéia, da Embraesp.
Mais de mil m²
Um levantamento recente feito pelo G1 junto a quatro imobiliárias indicou alguns dos imóveis mais caros de São Paulo. Entre eles, havia um de R$ 12 milhões – ou seja, R$ 1 milhão mais caro que os exemplos anteriores, mas que fica na Vila Andrade, portanto, fora do miolo mais valorizado da cidade.
Com 1.223 m² de área útil, 6 suítes, espaço para sala de cinema e adega climatizada, no imóvel caberiam 4 apartamentos da Vieira Souto – e ainda sobraria espaço. As dimensões do apartamento, à venda pela Brasil Brokers, impressionam, principalmente porque o imóvel é todo plano. Muitos apartamentos com tamanho tão generoso costumam ser duplex.
Fazendo uma conta simples, chega-se, portanto, ao seguinte resultado: R$ 39.286 o metro quadrado do apartamento do Rio, contra R$ 19.031 o da Vila Nova Conceição, em São Paulo, e de “apenas” R$ 9.812 o da Vila Andrade.
Valorização à vista
Os preços do eixo Ipanema – Leblon, no entanto, não refletem a realidade do mercado imobiliário do país como um todo, diz Luigi Gaino Martins, da Lopes Rio. “Este não é o mercado imobiliário real, a gente não pode se basear nele como sendo a realidade do Brasil.”
Martins defende, inclusive, que o Rio é mais barato do que São Paulo. “Aqui no Rio, as pessoas compram produtos iguais, em bairros similares, por valores muito mais baixos do que em São Paulo. Isso é um sinal de que o Rio de Janeiro ainda tem muito a se valorizar.”
Por: Fabíola Glenia
Fonte: G1