MRV vai apostar também em imóveis para a classe média em 2019

Em três anos, a maior construtora da América Latina quer os contratos com base nos recursos da poupança passem de 3% para até 25% do total
Construção do complexo da MRV Acquaville, em andamento na cidade de Londrina, no Paraná. Foto Divulgação MRV

O copresidente da MRV Engenharia Eduardo Fischer está otimista com o ano de 2019. Não só em razão do atual patamar da taxa de juros e de novidades regulatórias, como a lei de distratos, mas também porque ele enxerga no novo governo “só racionalidade” no que diz respeito à economia. Nem as declarações polêmicas do novo presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, sobre as taxas de juros praticadas pelo banco à classe média, abalaram a confiança de Fischer em Jair Bolsonaro. Nas entrelinhas, porém, percebe-se que a maior construtora da América Latina está buscando formas de crescer para além do programa Minha Casa Minha Vida.

Em 2019, o programa habitacional terá o menor orçamento em dez anos (R$ 4,6 bilhões), com restrições a concessão de subsídios à faixa 1,5, voltada a famílias com renda de até R$ 2,6 mil. A redução da verba para o programa é resultado do aperto fiscal. Com o teto dos gastos em vigor, a manutenção das despesas obrigatórias acaba por pressionar as discricionárias, como as da habitação. Mais investimentos só serão possíveis se o governo federal fizer a lição de casa, com reformas como a da Previdência.

Também neste ano, a Caixa reabriu a linha Pró-Cotista com juros mínimos maiores. Na prática, isso significa que a linha já não é mais necessariamente a mais vantajosa para o consumidor que não se encaixa no Minha Casa Minha Vida. A correção nas taxas da linha foi determinada ainda na gestão de Michel Temer.

Não à toa, Fischer disse à Gazeta do Povo que a MRV voltará a olhar para a classe média neste ano, mais precisamente para unidades de R$ 250 mil a R$ 300 mil, e também para contratos com base em recursos da poupança. O fato de a poupança ter voltado a arrecadar recursos, fechando 2018 com captação líquida de R$ 38,2 bilhões, também fundamental para essa decisão da companhia.

“O que a gente planeja é alcançar, em três anos, 20% a 25% do VGV dentro SBPE [poupança]”, afirmou o executivo. É um patamar parecido ao que a construtora atingiu em 2013, em pleno boom imobiliário. Atualmente, cerca de 97% dos contratos da companhia têm base em recursos do FGTS.
Esse foco na baixa renda e no desenvolvimento de técnicas de construção industrializadas estão entre os fatores que levaram a MRV a registra o 26.º trimestre seguido de geração de caixa no fim de 2018.

Segundo os resultados preliminares, divulgados na semana passada, a companhia fechou o ano passado com um crescimento de 14,2% no Valor Geral de Vendas (VGV) do lançamentos, para R$ 6,4 bilhões, e uma alta de 5,6% em vendas líquidas (descontados os distratos), para R$ 5,3 bilhões, em comparação ao ano anterior. E embora não tenha atingido a meta de 50 mil unidades lançadas, terminou o ano com algo próximo disso (41,1 mil lançamentos) e um crescimento de 10,9% em relação a 2017. Os resultados fizeram analistas do Itaú BBA e do BTG Pactual avaliarem bem as perspectivas dos papéis da companhia para 2019.

“Mesmo sendo um produto mais customizado, [o produto de classe média também] será feito de maneira industrializada, usando as fôrmas de alumínio e o concreto auto-adensável. Entendemos isso como uma vantagem de mercado”, disse Fischer.

Por ser uma companhia de capital aberto, a MRV não faz previsões de quantos lançamentos deve fazer em 2019, mas Fischer ressalta que o plano é superar 2018 tanto em VGV quanto em número de unidades lançadas.

Assim como em 2017, a companhia também aproveitou a alta geração de caixa e o endividamento próximo de zero para aumentar seu estoque de terrenos no ano passado. O landbank da companhia terminou 2018 avaliado em R$ 49,7 bilhões. Embora tenha estreado na Região Norte no ano passado, com um empreendimento em Manaus, a MRV deve concentrar a aquisição de terrenos nas regiões onde mais atua: Sudeste e Sul.

Além da captação líquida da poupança, a expectativa da MRV em torno das Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs), que começaram a ser emitidas no ano passado, como futura nova fonte de recursos para o setor imobiliário é grande. “A LIG tem uma vantagem, ela pode ser securitizada. Então, pode ser criado um mercado secundário no Brasil, nos moldes dos mercados mais evoluídos, que pode ser importante para o setor a longo prazo”, avalia Fischer.

Fonte: Gazeta do Povo

Deixe seu comentário