Bairro com perfil familiar se destaca no mercado imobiliário de São Paulo

Empresas do setor investem na região, que tem unidades com valor entre R$ 250 mil e R$ 350 mil e proximidade com o metrô

O bairro da Penha, na zona leste de São Paulo, tem chamado a atenção das empresas do mercado imobiliário. Tradicionalmente residencial e focado no perfil de consumidores familiares, o número de lançamentos na região subiu 75% de 2014 para 2015, acima da média da capital paulista, que caiu 10% no mesmo período, de acordo com dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp).

Na avaliação do vice-presidente comercial da Abyara Brasil Brokers, Bruno Vivanco, um dos motores desse crescimento é a tendência dos moradores nascidos e criados na Penha de não querer ir embora do bairro. Outro fator destacado por ele é a ampla estrutura de comércio, serviços e lazer, como o Parque Tiquatira, além da proximidade com o metrô, “o que a torna um ponto de desejo de migração”, aponta o vice-presidente.

De acordo com as construtoras consultadas, os imóveis na Penha variam de R$250 mil a R$350 mil reais.
No contexto de desaquecimento de vendas pelo qual o mercado imobiliário passa, a Penha desponta como alternativa de custo intermediário na zona leste, visto que a oferta no bairro está acima da encontrada mais à leste, como Vila Matilde, Itaquera e Vila Curuça, mas aquém das regiões mais próximas do centro.

“Qual é a menina dos olhos da zona leste? Anália Franco. De repente, esse é o desejo da pessoa, mas lá o metro quadrado é caro. A Penha é do lado, tem shopping, metrô e é mais barata. O cliente também não consegue comprar no Tatuapé, mas na Penha consegue”, afirma Vivanco.

Tranquilidade. A professora Aurenice Costa trocou um apartamento em Higienópolis pela Penha para morar próximo ao bairro do marido, que é da Vila Matilde. Há 13 anos na mesma casa, Nice, como prefere ser chamada, não se arrependeu da escolha.

“Vou a pé ao Mercado Municipal da Penha e à igreja (Basílica Nossa Senhora da Penha). Aqui é tranquilo, tenho tudo a mão.”

A calmaria e tradicionalismo do bairro são seus grandes atrativos. O funcionário público Celso Paiva comprou no ano passado um sobrado próximo à Igreja Nossa Senhora da Penha, cartão postal do bairro. Nascido e criado na Penha, ele sequer cogita morar em outro lugar.

“Não trabalho longe de casa, mas ainda que tivesse de atravessar a cidade, não me mudaria. Deve ser por que já criei um vínculo. Aqui, os vizinhos são meus amigos”, conta.

Estudo. De acordo com levantamento Grupo Brasil Brokers, entre os perfis que buscam um imóvel no bairro destacam-se os que desejam um espaço maior (43,3%) e os que querem sair do aluguel e morar no primeiro imóvel próprio (35,6%).

Segundo o estudo desde 2009 foram lançados 16 empreendimentos na Penha, distribuídos em 2.271 unidades, com Valor Geral de Vendas (VGV) totalizou R$ 581 milhões e o preço mediano geral de estoque neste período foi de R$ 5.431 o metro quadrado.

A predominância é de apartamentos perfil família, de dois e três dormitórios, que corresponderam por quase a totalidade das unidades lançadas, 97% (2.187 unidades). A fatia restante 3% (60 unidades) é proveniente de apartamentos de quatro quartos, que possuem pouca representatividade nesta zona de valor, aponta o estudo.

O vendedor da construtora Lumiar, que tem foco exclusivo na incorporação e construção de empreendimentos residenciais voltados para a classe média, Rafael Betoni ressalta que a procura por imóveis na região entre famílias com menor poder aquisitivo cresceu nos últimos cinco anos, mesmo diante da recente valorização. “Já foi mais barato, mas a Penha continua sendo uma opção acessível”, afirma.

Por sua vez, o gerente de vendas da construtora Cury, Fernando Siqueira explica que moradores vindos de locais mais afastadas da zona leste mudaram-se para a Penha com o intuito de se aproximar do trabalho, mas sem se distanciar da origem, onde mantêm vínculos familiares.

“São famílias jovens, de 25 a 40 anos, que procuram o primeiro imóvel. Compram para residir. Não têm a intenção de alugar ou vender em um futuro próximo”, comenta Siqueira.

Mercado. Dados da Embraesp mostram que a região passou por um forte processo de valorização de 2010 para 2011, quando o preço do metro quadrado construído saltou de R$ 2.957,22 para R$ 4.586. O número representa um crescimento de mais de 55% e foi influenciado, sobretudo, pelo aquecimento do setor imobiliário – que teve impacto em toda cidade.

Apenas em 2015, a Penha recebeu 35 lançamentos, divididos em 763 unidades, sendo 603 de dois e 160 de três quartos, ao preço médio de R$ 4.853,76 o metro quadrado.

De janeiro de 2009 a março de 2016, foram lançados 139 residenciais verticais e horizontais no bairro, em um total de 3.057 unidades, das quais 97% são de dois (1.964) ou três (1.029) dormitórios.

Construtoras apostam em projetos de condomínios-clube

Para contornar o período de desaceleração do mercado imobiliário, empresas do setor investem em empreendimentos de médio padrão, visando atender públicos com menor poder de compra em regiões estruturadas e distantes dos bairros mais valorizados da cidade. Neste contexto, a Penha aparece como opção.

Pela primeira vez no bairro, a Brookfield Incorporações inaugurará em breve o residencial Ilha da Verde Penha sob um terreno de 16 mil metros quadrados. O condomínio de duas torres terá ao todo 399 unidades de 60 a 72 m² e uma área externa com parque privativo, pista de caminhada, horta orgânica e trilha para bicicleta, além das vagas de garagem (uma ou duas por morador).

“Acreditamos que na Penha há uma alta demanda de residência média. O público de lá é naturalmente a microrregião do bairro. Sabemos que só 30% da população na zona leste mora em casa própria; 40% é alugado. Ou seja, há um potencial de aquisição grande na região”, esclarece o diretor da Brookfield, José de Albuquerque.

Os preços dos apartamentos ainda não foram divulgados, mas a estimativa é que as vendas comecem em maio. “Levaremos para lá o conceito de grande edifícios, que são os condomínios-clube”, informa.

Aposta. A construtora e incorporadora PDG investiu em dois empreendimentos na região: um comercial e outro residencial, este com 400 unidades, todas já comercializadas. Para o gerente comercial da empresa, Leonardo Raimundo, a Penha é um bairro atrativo porque conta com boa estrutura de transporte, comércio e lazer.

A despeito do cenário de contingência, ele ressalta que os bairros onde o tíquete médio está entre R$350 mil e R$400 mil foram menos afetados pela crise. “O morador da Penha vive próximo ao metrô e ao parque (Tiquatira) a um custo inferior ao de locais com comodidade semelhante”, pondera.

Outra construtora de olho no bairro é a Cury, com três lançamentos já efetivados e um quarto previsto para junho. São no total 1.050 unidades em um terreno de 25.690 mil metros quadrados divididos em quatro complexos residenciais independentes: dois deles de um ou dois dormitórios para famílias com rendimento de até seis salários mínimos atendidas pelo programa Minha Casa Minha Vida, e os outros dois com apartamentos de três quartos destinados a um público de maior poder aquisitivo (até16 salários mínimos).

Segundo o gerente de vendas Fernando Siqueira, 600 imóveis já foram vendidos. O valor geral de vendas (VGV) do empreendimento é de R$222 milhões e o total de área construída no bairro é de 75.900 mil m².

Fonte: Estadão

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