Golpes envolvendo estelionatos em contratos de aluguel têm sido recorrentes no mercado imobiliário.
Segundo o Presidente do Creci-GO, Oscar Hugo Monteiro Guimarães no momento da fraude, os golpistas se passam por donos de imóveis – que, na verdade, são locados por imobiliárias –, publicam anúncios falsos com preço abaixo do mercado e cobram o pagamento do aluguel adiantado. Quando os clientes tentam se mudar para o imóvel, percebem que foram vítimas de estelionato.
“Ficamos sabendo muito desses golpes. São casos constantes. O estelionatário vai até a imobiliária, deixa a identidade, geralmente falsa, e vai verificar o imóvel. Ele vai no imóvel, olha, tira uma foto. No meio do caminho faz uma cópia da chave e volta até a imobiliária falando que não tem interesse, mas pega as fotos e anuncia o imóvel num portal, com um preço bem abaixo do pedido”, explica o presidente.
Quando o interessado vê o anúncio do imóvel e acha o preço atrativo, o golpista pede que a pessoa pague determinado valor antes de se mudar para o local. Para agilizar o processo, conforme Guimarães, os criminosos fazem um contrato facilitado e sem exigências básicas, como a de um fiador.
“A pessoa faz esse contrato, que, muitas vezes é um contrato bem amador, acaba pagando o valor combinado, achando que está fazendo um bom negócio, mas, quando tenta se mudar, descobre que é um golpe”, relata o presidente.
Ainda conforme Guimarães, é comum que as imobiliárias emprestem a chave do imóvel para a visitação de clientes sem a necessidade de nenhum acompanhante. No entanto, ele aponta que esta é uma das principais causas facilitadoras do golpe.
“Muitas vezes, a imobiliária não fica nem sabendo do caso. Em um caso recente, o prejuízo foi evitado, porque a pessoa que queria locar o imóvel viu o anúncio da imobiliária e depois viu outro anúncio postado em um portal, alugando por um preço inferior. Ela olhou e resolveu ligar na imobiliária. Foi quando a empresa falou que não era esse valor, e acionou os meios que evitaram um problema maior”, lembra.
Apenas neste mês, uma imobiliária de Goiânia sofreu duas tentativas de golpe. Advogado que atende a empresa, Victor Ribeiro de Freitas, especialista em direito imobiliário, afirma que estelionatários tentaram aplicar a fraude em imóveis administrados pela imobiliária, mas não conseguiram.
“O estelionatário queria um ano de aluguel adiantado. O valor pedido no imóvel era R$ 3,5 mil, pela imobiliária, mas, para fechar o negócio, ele [o golpista] tentou passá-lo por R$ 2,5 mil. A condição do desconto era de receber um ano de pagamento adiantado”, afirma.
Conforme explica o advogado, o caso foi descoberto pela própria vítima. Ele explica que, além do alto valor pedido adiantado, a conta para depósito era do Rio de Janeiro e não constava nome da imobiliária no contrato, apesar de que o documento de autorização de visita forjado tinha o nome da empresa.
“Ele [a vítima] verificou que o golpe foi bem preparado, já que a pessoa esteve nessa imobiliária e preencheu um cadastro para levar até o prédio para poder entrar. Nesse caso, o golpista pegou essa autorização na imobiliária e fabricou outra com outra assinatura”, conta.
Após o ocorrido, a empresa passou a tomar cuidados a mais para evitar situações do tipo. Além da autorização assinada pela imobiliária e do cadastro prévio do interessado, com documentação e foto, a visitação só acontece com acompanhamento de um responsável da empresa. No caso de condomínios, o cliente pode visitar o imóvel sem o acompanhante, mas deverá apresentar uma liberação atestada pela imobiliária.
“Hoje, os contratos são feitos com a data e a hora carimbada, com foto do imóvel, registro da imobiliária, assim como cadastro do visitante. Antes da visitação, o cliente deixa o documento e leva uma autorização para ser mostrada no condomínio, com data e hora. Além disso, existe um limite no período de visitação, a pessoa só pode permanecer na visita por 1h. Quando se trata de casas, que não temos esse controle que temos em condôminos, tem que ir uma pessoa para acompanhar”, relata Freitas.
Como evitar
O presidente do Creci-GO afirma que, para evitar novos casos, as empresas corretoras de imóveis devem aumentar os procedimentos de segurança na hora da liberação da chave para visitação.
“Fazemos um alerta às imobiliárias, para que aumentem seus procedimentos de segurança, e à sociedade, para que exijam sempre a documentação completa do imóvel e que desconfiem de ofertas fora da realidade de mercado”, ressalta.
Marcell Abranches de Castro, gerente de locação da URBS Imobiliária, afirma que as empresas têm reforçado os procedimentos identificação de interessados em fazer visitas ao imóvel, antes de entregar as chaves. Ele conta que, há três anos, a empresa passou por uma tentativa de golpe e, depois disso, ajustou ainda mais os cuidados com empréstimos de chave.
“A gente faz analise o perfil de documentação, pede documento foto original, que fica retido na imobiliária enquanto o cliente visita o imóvel, se o cliente não for com o acompanhamento. Caso ele vá acompanhado, não precisa deixar o documento, mas faz o cadastro com nome, telefone, e-mail, RG, CPF, endereço, além de assinar um termo de que está indo visitar o imóvel e declarando que vai devolver a chave”, conta.
Castro lembra que, antes de pagar qualquer quantia, é importante que o locatário faça questão de ir à imobiliária para assinar o contrato e pegar as chaves porque, dessa forma, ele tem a certeza de que trata-se um negócio real, sério e legalizado.
“Quando você compra direto da fonte, tem que verificar a idoneidade da empresa. Tem que pesquisar imobiliárias que você tenha a certeza que está tratando com a pessoa que vai te alugar imóvel com condições ideais, munido de documentação. Verificar se a empresa tem autorização e pode exercer a atividade de aluguel”, conta.
Fonte: G1