O mercado imobiliário brasileiro acaba de registrar mais um episódio grave envolvendo fraudes milionárias. A Operação Black Flow, deflagrada pelo GAECO/MP-SC em setembro, revelou um esquema de vendas ilegais da construtora B.Fabbriani, sediada no Rio de Janeiro, que movimentou cerca de R$ 90 milhões e deixou centenas de famílias e investidores no prejuízo.
Só em um dos empreendimentos investigados, o Coline Residencial, em Itapema, 168 pessoas foram lesadas. Prometendo três torres modernas, o projeto nunca saiu do papel.
Histórias de perdas irreparáveis
Entre as vítimas está Clóvis César Fernandes, trabalhador da construção civil, que investiu cerca de R$ 55 mil acreditando nas promessas da construtora e na intermediação de corretores e imobiliárias.
“Dei a entrada e paguei reforços, mas perdi todo o dinheiro do meu trabalho. É revoltante”, desabafou.
Outro investidor, que preferiu não se identificar, relatou ter aplicado R$ 400 mil em um imóvel no bairro Morretes. Sem precedentes de golpes semelhantes em Itapema, confiou no negócio. Mais de um ano depois, nunca obteve retorno ou contato da empresa.
Como funcionava o esquema
Segundo o Ministério Público, o grupo usava Sociedades de Propósito Específico (SPEs) para comercializar imóveis sem registro de incorporação. O dinheiro arrecadado era desviado para outras empresas do grupo e até contas pessoais dos dirigentes.
O conglomerado reunia sete empresas principais, uma holding nos Estados Unidos e mais de 40 SPEs. Em Itapema, foram lançados ao menos 16 empreendimentos, mas apenas um foi entregue e com irregularidades graves, sem matrícula individualizada.
Fiscalização e ações do Creci-SC
O Creci-SC já monitorava a construtora desde 2022 em parceria com o MP-SC. Nesse período, foram 366 trocas de informações entre os órgãos.
Somente em 2024, 4.514 pessoas foram fiscalizadas em Itapema – entre clandestinos, credenciados e empresas. Nos últimos três anos, 433 clandestinos foram autuados na cidade por exercício ilegal da profissão.
“O objetivo é proteger o mercado e dar segurança às negociações. Temos defendido punições mais rigorosas e a criminalização do exercício ilegal da corretagem”, reforçou Gabriel Carrara, presidente em exercício do Creci-SC.
O que corretores de imóveis e investidores precisam aprender com o caso
Infelizmente, golpes como o da B.Fabbriani não são casos isolados. Por isso, corretores de imóveis e gestores precisam redobrar a atenção ao intermediar e recomendar empreendimentos.
👉 Exija o registro de incorporação – sem ele, o empreendimento não tem segurança jurídica.
👉 Pesquise a empresa – histórico de entregas, reputação no mercado e situação legal.
👉 Desconfie de promessas fáceis – preços muito abaixo da média ou condições “boas demais” geralmente escondem riscos.
👉 Atue com ética e transparência – o corretor tem responsabilidade profissional e legal ao intermediar negócios.
👉 Denuncie irregularidades – se notar práticas suspeitas, acione o Creci-SC ou o Ministério Público.
Reflexão final
O caso de Itapema é um lembrete doloroso: a pressa em fechar negócios não pode estar acima da segurança jurídica e da confiança do cliente.
Cabe a todos os profissionais do setor fortalecer a imagem do mercado imobiliário com ética, responsabilidade e informação de qualidade.
Só assim será possível evitar que golpes desse porte continuem fazendo vítimas e manchando a credibilidade de um mercado que deveria ser sinônimo de realização de sonhos.
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