São Paulo – Pelo segundo mês consecutivo, a caderneta de poupança registrou captação líquida negativa, com total de R$ 1,301 bilhão em maio. Os depósitos chegaram a R$ 107,404 bilhões, e as retiradas, a R$ 108,706 bilhões. No mês de abril a diferença foi de R$ 1,762 bilhões, segundo dados do Banco Central. Para analistas, os números revelam a saída de investidores para linhas mais lucrativas, já que em cenário de alta nas taxas de juros e inflação a poupança demonstra baixa rentabilidade.
O aumento dos valores retirados, contudo, afeta diretamente o crédito imobiliário. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), os financiamentos para a carteira com recursos da poupança atingiram a marca dos R$ 6,16 bilhões no mês de abril, acréscimo de 42% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Em maio, o volume de crédito para imóveis atingiu 62% dos depósitos dessa linha de investimento, afirmou Dyogo Oliveira, secretário adjunto do Ministério da Fazenda.
A representatividade do tipo de investimento fica nítida no balanço do primeiro trimestre da Caixa Econômica Federal, que tem como “carro-chefe” de sua carteira o crédito imobiliário, responsável por 61,5% das operações. O saldo totalizou R$ 113,1 bilhões, acréscimo de 50% em relação a março de 2010 e de 8% na comparação com o último trimestre de 2010.
A poupança é a principal fonte de recursos para esta linha de financiamento, com captação de R$ 61,7 bilhões nos três primeiros meses de 2011, o que representa 52,7% de participação. O FGTS totalizou R$ 55,02 bilhões.
Sobre o primeiro trimestre, o vice-presidente de Controle e Risco da Caixa, Raphael Rezende Neto, afirmou que o fato não reflete a posição atual da instituição financeira. “Observamos que o mercado teve queda na poupança. Apesar disso, a Caixa aumentou a participação, já que saiu de 33,9% no primeiro trimestre do ano passado para 34,5% nos primeiros meses deste ano. Também já observamos crescimento na captação em torno de R$ 1 bilhão em maio. Por esses motivos, a captação em poupança não prejudica o funding para o imobiliário”, concluiu o executivo.
No entanto, fontes do mercado financeiro apontaram que a Caixa já realiza um estudo para fontes de captação de recursos complementares à poupança.
Para Celso Grisi, economista e diretor presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, a principal fonte de recursos para financiamento de imóveis continuará com a poupança, e por esse motivo o Banco Central e o Ministério da Fazenda devem tomar medidas para aumentar o pagamento próximo da taxa básica de juros, a Selic, que está em 12% ao ano. “Se essa fonte ficar ainda mais escassa, tende a encarecer o crédito imobiliário. O governo terá de recompor a remuneração financeira, que será repassada para os agentes financeiros e, assim, para os consumidores.”
No período de 1º de maio a 1º de junho de 2011, a remuneração dos depósitos em poupança estava em 0,65% ao mês, o que corresponde a 0,5% a.m. mais TR, que no período ficou em 0,15%.
No que se refere ao destino dos investimentos retirados da poupança, o mercado de renda fixa é apontado por analistas como a melhor alternativa. Até 31 de maio de 2011 a captação líquida no mês totalizou R$ 3,354 bilhões. Na soma do ano, o valor chegou a R$ 47,492 bilhões, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
“Os títulos privados de renda fixa chegam a 12,83% ao ano. Mesmo se se retirar o imposto de renda, esse investimento dá rentabilidade de mais de 50% do que a poupança, cerca de 9% a.a.”, afirmou Clodoir Vieira, economista-chefe da Sousa Barros Corretora. Para o especialista, a Selic deve baixar a 9% ou 10% a.a., e a inflação, a 2% ou 3%, para que a poupança volte a ser rentável.
Fonte: DCI