Preços de imóveis – Segundo especialistas do mercado imobiliário, o sucessivo aumento no custo da construção civil deve impactar o valor das unidades habitacionais
Nos próximos meses, o preços dos imóveis deve subir gradualmente. E isso tem a ver com uma série de fatores: alta procura, queda da taxa de juros, busca por moradia melhor em razão da pandemia e, mais recentemente, a alta sucessiva nos preços de material de construção – esse último tende a encarecer os preços finais de imóveis novos e adiar lançamentos.
Evandro Negrão de Lima Jr., presidente da Sancruza Imóveis, avalia como inevitável essa alta nos valores dos imóveis, principalmente em razão dos preços das matérias-primas.
“A elevação do preço de insumos fundamentais, como aço, cimento, cobre, entre outros, tem sido expressiva nos últimos meses, chegando a dobrar em alguns casos. Esse movimento de reajuste de preço dos imóveis inclusive já começou. Obviamente, isso não ocorre do dia para a noite, mas esses custos vão sendo repassados gradualmente.”
Mas engana-se quem pensa que somente o mercado de imóveis novos é que será impactado. Quem deseja se mudar para um imóvel usado também sofrerá impacto no bolso. “Os novos empreendimentos absorvem esse impacto e o preço dos usados toma como referência justamente o preço dos novos. Dessa forma, eles também aumentam”, afirma Evandro Negrão.
Inclusive, segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), no último ano, encerrado em março de 2021, o custo com materiais de construção cresceu 31,57%, maior alta nos últimos 26 anos.
Esse aumento nos custos já vem se refletindo nos preços dos imóveis, como mostra a pesquisa do Instituto Data Secovi, da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG).
No primeiro bimestre deste ano, o valor médio do imóvel comercializado em Belo Horizonte subiu 3,71% em comparação ao mesmo período do ano passado, percentual acima da inflação acumulada no período, que chegou a 1,09%.
E os impactos já estão sendo sentidos no setor. É o que afirma Leonardo Matos, diretor da CMI/Secovi-MG e responsável pelo instituto de pesquisas Data Secovi. Empreendimentos do programa habitacional Casa Verde e Amarela inclusive tem sentido isso de perto. “Algumas obras já foram paralisadas. Isso porque o construtor não consegue repassar esses aumentos de custo, uma vez que o teto do programa é estabelecido pelo governo.”
“A margem é muito reduzida. Então, não há possibilidade para reajuste. Esse cenário também pode impactar de forma negativa os lançamentos previstos, já que algumas construtoras estão preferindo adiar os lançamentos. A situação também gera uma preocupação crescente com relação ao estoque disponível, pois a redução nos lançamentos faz com que não se consiga regular o estoque mínimo que o mercado necessita, que já está em baixa.”
No entanto, há aumentos que ainda não foram repassados e, portanto, talvez seja a hora de optar por uma casa nova sim, e o mais rápido possível, já que em breve esses valores devem ser reajustados.
“A hora de fechar o melhor negócio e realizar o sonho da casa própria é agora e os números comprovam isso: segundo dados divulgados pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), comprar um imóvel pode ficar entre 5% e 10% mais caro neste ano em relação a 2020.”
“Além do aumento da taxa básica de juros (Selic) e do custo do material de construção, outro fator que afeta no preço dos imóveis é o aumento do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que subiu 0,50% na primeira prévia de abril, segundo divulgou a Fundação Getulio Vargas (FGV). Por servir de parâmetro para o reajuste da maioria dos contratos de locação residencial, a alta do IGP-M reforça que este é o momento para investir na casa própria”, afirma Andre Campos, vice-presidente da Emccamp Residencial.
Outro fator de alerta, segundo ele, é que, “com o aumento do índice, a procura pela compra de imóveis cresce e, com isso, as construtoras começam a trabalhar de forma estratégica os estoques e a aumentar os preços das unidades em lançamento devido à valorização do mercado”, diz
O presidente da Sancruza analisa, ainda, que, por enquanto, a alta da taxa Selic não trouxe impactos para o mercado. “Esse aumento tem pouca representatividade no setor imobiliário”, afirma. Ele ressalta, também, que as instituições financeiras lançaram, no ano passado, taxas de juros mais baixas que as praticadas anteriormente. “Os juros baixos representam para o setor um aumento do poder de compra do consumidor”, revela.
EM CRESCIMENTO
Na avaliação de Evandro Negrão, o fato de Belo Horizonte ter adotado uma política urbana mais restritiva levou construtoras a ampliar a atuação na região metropolitana. Em Contagem, por exemplo, as vendas passaram de 1.748 unidades, entre janeiro e dezembro de 2019, para 3.032 unidades comercializadas no mesmo período de 2020, o que representa um aumento de 73,45%, segundo dados do Sinduscon-MG.
“Existe um espaço muito grande para o crescimento imobiliário na cidade de Contagem. Com isso, tem ocorrido um movimento de migração, pois é o segundo maior mercado da região metropolitana e um município desenvolvido”, avalia.
Fonte: Jornal Estado de Minas