Mudança no crédito vai afetar imóveis e carros

A retirada de R$ 61 bilhões do mercado de crédito para combater a alta da inflação deve custar caro para o mercado imobiliário e também para o de bens duráveis. A mudança no compulsório – que prevê maior depósito de dinheiro dos banco no BC (Banco Central) – afetará diretamente a venda de imóveis, automóveis, eletrodomésticos e eletrônicos, todos comprados hoje no País com o auxílio do crédito e com parcelas a perder de vista.

Com o arrocho anunciado pelo governo na sexta-feira, o consumidor será obrigado a bancar boa parte do valor dos produtos, sem contar a perspectiva de alta de juros para planos maiores do que 24 meses, o que deve desestimular o crescimento vivido hoje pelos segmentos, amparado principalmente na classe C, a nova classe média, que depende do crédito para garantir a aquisição dos bens.

“Na prática, quem está preparado para comprar, que tem renda mensal continuará comprando. Acontecerá uma adaptação, principalmente dos meios produtivos, do mercado em si por conta da falta de crédito, mas isso não afetará tanto o mercado civil porque temos linha específica de crédito”, argumenta o presidente da Acigabc (Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC), Milton Bigucci.

Apesar da expectativa, o empresário afirma que os preços, que tiveram alta de até 35% no Grande ABC neste ano, devem se estabilizar com a queda na procura. “Sendo otimista, acreditamos no crescimento, mas não será vertiginoso como neste ano”, explica.

Para o economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Alencar Burti, o mercado imobiliário será atingido pelas medidas restritivas e pode até enfrentar recessão, mas era fundamental para frear a alta dos preços. “Haverá ajustamento do mercado para não ter inflação, porque senão, haveria aumentos muito mais dramáticos em breve”, diz.

Para o professor de Economia da Escola de Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Radamés Nardini, o resultado das restrições só poderá ser medido em março, quando o País conhecerá o primeiro balanço e a expectativa do PIB (Produto Interno Bruto). “O setor imobiliário está hoje em ótimo momento. Se esse segmento sofrer, cairá o ritmo em todos os outros. Será preciso sintonia para evitar grande queda econômica, mas que cairemos em relação aos índices deste ano, isso certamente acontecerá”, avalia.

Consórcio estima crescimento com alteração no financiamento

As mudanças na oferta de crédito acima de 24 meses, principalmente para a compra de veículos, deve contribuir para a expansão na busca por consórcios. Com a exigência de entrada maior – de até 30% do valor do bem – e com juros mais altos, a compra programada tornar-se a melhor opção para quem não possui o valor necessário para adquirir o item de desejo.

“As classes C e D, que devem ser as mais afetadas pelo pacote anunciado, tendem a migrar para o consórcio. Nossa expectativa, para 2011, é de manter o crescimento de 10% até 15%”, diz o presidente da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios), Paulo Roberto Rossi.

A estimativa do empresário é consideravelmente tímida, uma vez que atualmente o crescimento no consórcio de veículos entre janeiro e outubro deste ano foi de 19,4%. “Somos conservadores e não apostamos numa explosão na venda de consórcios, mas devemos nos beneficiar sim com essas medidas restritivas”, estima.
Rossi explica que sem a entrada zero, muitos clientes devem recorrer a outra modalidade de financiamento. “O consórcio surge como alternativa, principalmente para quem precisará dar entrada maior. Se ele não tem esse dinheiro, pode jogar o lance para frente, quando tiver a reserva.”

Os números do setor até aqui mostram que em dez meses o consórcio cresceu 6,7% na comercialização de cotas. O destaque fica para automóveis com 19,4%, veículos pesados com 11,5% e imóveis com 11,2%.

Fonte: Diario do Grande ABC

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