Apesar do desaquecimento econômico, preços de imóveis continuam subindo graças aos empréstimos. Financiamentos cresceram 43% em 2011 e devem ter alta de 30% neste ano
Os imóveis no Brasil seguem em um patamar altamente valorizado, apesar dos impasses da economia global, que têm resultado em menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) por aqui. A consequência dos preços nas alturas e dos juros em queda é que os brasileiros estão contraindo dívidas mais significativas para realizar o sonho da casa própria. Especialistas afirmam, porém, que o quadro não é preocupante, pois o país saiu de um patamar de crédito muito baixo se comparado a outros países.
A mudança, porém, chama a atenção pela velocidade. O valor médio financiado pela Caixa Econômica Federal com recursos da caderneta de poupança, destinados a quem ganha acima de R$ 5,4 mil, mais que dobrou nos últimos seis anos. Passou de R$ 69 mil, em 2007, quando começou a valorização acelerada dos imóveis, para R$ 168 mil este ano, aumento de 143%. A Caixa detém 75% do mercado de crédito imobiliário.
O avanço foi bem maior que o dos preços dos imóveis. Os apartamentos e casas adquiridos atualmente por meio de financiamentos estão, em média, 86% mais caros que em 2007. Isso é resultado de uma equação simples: sem conseguir alavancar uma poupança pessoal no mesmo ritmo da valorização dos imóveis, os compradores tiveram que financiar valor bem maior.
Com isso, o empréstimo habitacional tem representado a cada ano uma parcela mais elevada do preço do apartamento ou casa. Em 2007, era, em média, de 50% no caso de aquisição e, hoje, está em 65,4%, conforme dados da Caixa. Se for considerado todo o sistema bancário, incluindo as linhas para construção, essa proporção chega atualmente a 69%.
Com os trabalhadores de renda mais baixa, até R$ 5,4 mil, ocorre o mesmo. Nas linhas com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), com juros mais baixos, o preço médio dos imóveis financiados subiu 96% – de R$ 51 mil, em 2007, para R$ 100 mil em 2012. O valor emprestado saltou de R$ 34 mil para R$ 74 mil no período, elevação de 118%. Para conseguir o apartamento ou a casa, essa clientela, que tem dificuldade de juntar uma poupança maior para dar de entrada, está sendo obrigada a financiar uma parcela maior: em torno de 74%. Em 2007, esse percentual era de 66,7%.
Apesar do esfriamento da atividade econômica desde o ano passado, o volume de crédito imobiliário continua subindo forte, embora o ritmo tenha desacelerado um pouco. É a grande oferta de crédito para compra da casa própria o motivo apontado pelos especialistas como responsável por manter a demanda aquecida e a valorização dos imóveis.
Expansão No ano passado, quando o mercado iniciou um processo de ajuste dos preços, reduzindo o ritmo de valorização e da demanda, o total emprestado para aquisição de imóvel pelos bancos públicos e privados com recursos da poupança manteve-se acelerado, com elevação de 41%. Pelo ritmo deste ano, o crescimento sobre 2011 também será expressivo, em torno de 30%, chegando a 43% só na Caixa. Há queda este ano apenas do volume de financiamento para construção individual – de 28% – provavelmente pela dificuldade dos interessados em comprar um terreno.
O que tem permitido aos brasileiros continuar comprando imóveis já tão caros são as taxas de juros baixas, aliadas à melhora da renda das famílias. Além de a Taxa Referencial de Juros (TR) que indexa o saldo devedor dos financiamentos estar próxima de zero, com a taxa Selic menor, a Caixa e o Banco do Brasil vêm cortando os juros anuais fixos, de uma média de 10% e 11%, em 2007, para percentuais em torno de 7,8% a 8,4% ao ano, cobrados de imóveis até R$ 500 mil. Os trabalhadores de renda mais baixa encontram hoje taxas que vão de 5,1% a 7,2% ao ano.
Os encargos menores permitem que o mesmo cliente contraia uma dívida maior pagando o mesmo valor de prestação em relação à situação anterior, de juros mais altos. Exemplo: para um empréstimo de R$ 120 mil em 25 anos com taxa de 11% ao ano de antes, a prestação ficaria em R$ 1.536, com seguros. Esse mesmo comprador consegue, agora, na Caixa, juros efetivos de 7,8% ao ano, o que resulta em parcela mensal de R$ 1.257. Para a mesma prestação de R$ 1.536, ele obtém financiamento maior, de R$ 148 mil.
Fonte: Estado de Minas