A Caixa, líder em crédito imobiliário no país, está sem dinheiro para novos financiamentos de imóveis para a classe média. Depois do “Minha Casa, Minha Vida”, a linha de crédito é a mais barata do banco, com juros de 8,61% ao ano. Sem a linha pró-cotista, o sonho da casa própria pode ficar mais distante. Ou pelo menos, bem mais caro.
Em nota, a instituição financeira informou que os recursos da linha pró-cotista, que usa dinheiro do FGTS para liberar empréstimos de até R$ 950 mil para a casa própria, “são suficientes apenas para atender as propostas de financiamento já recebidas pelo banco”.
De acordo com a assessoria de imprensa da Caixa, a instituição está em negociação para liberar, nas próximas semanas, algo em torno de R$ 3 bilhões para novos contratos. Em nova nota enviada posteriormente, foi informado que a “Caixa e o Ministério das Cidades estão em tratativas finais para remanejamento de recursos do FGTS para aporte de R$ 2,54 bilhões na linha pró-cotista”. Ainda conforme o texto, as agências do banco estão autorizadas a receber novas propostas a partir de hoje.
Juros mais altos
Sem os recursos da linha pró-cotista, uma solução para os consumidores seria recorrer à SBPE. Embora as exigências para aprovação do empréstimo sejam as mesmas do financiamento pelo FGTS, os juros são maiores: 10,49% ao ano. A diferença anual em relação à taxa da pró-cotista, de 8,61%, parece pouca: 1,88%. Mas, ao longo de 420 meses (35 anos), a soma das prestações pesa no bolso.
Um cliente que pega R$ 200 mil emprestados, para pagar em 420 meses, a uma taxa de 8,61% ao ano, paga ao banco R$ 1.911 ao mês, conforme simulação realizada pelo presidente da Associação dos Moradores e Mutuários de Minas Gerais (AMMMG), Sílvio Saldanha. Nas mesmas condições, porém, com taxa de 10,49%, conforme determina o SBPE, a prestação salta para R$ 2.224.
A diferença mensal é de R$ 313, algo que, aparentemente, cabe no bolso. O problema é que em 420 meses, o financiamento pelo SBPE fica R$ 113.460 mais caro do que pela linha pró-cotista. “As pessoas não têm o hábito de analisar os contratos com cuidado e avaliar o peso dos juros antes de comprar algo”, lamenta o presidente da AMMMG.
Contrato
Ele destaca que é comum as pessoas assinarem contratos com construtoras, para comprar imóveis na planta sem a garantia de que conseguirão o financiamento junto ao banco após o término das obras. Um item comum do contrato é o financiamento junto à própria construtora, que gira em torno de IGPM + 1% do saldo devedor. Altíssimo. “Em alguns casos, os juros das construtoras chegam a 25% ao ano. Isso significa que em menos de quatro anos o comprador estará devendo o dobro da dívida inicial”, alerta.
O presidente da Comissão de Direito Imobiliário da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG) e Diretor da Caixa Imobiliária Netimóveis, Kênio de Souza Pereira, também chama a atenção para a elaboração do contrato. Uma dica do representante da OAB-MG é incluir no texto o banco e, até mesmo, a linha de crédito que serão utilizados para pagamento do imóvel.
“Se a linha de crédito for encerrada ou o banco fechar, por exemplo, nenhuma das partes tem que pagar multa para encerrar o contrato”, afirma o especialista.
Interrupção de financiamentos pode barrar o crescimento econômico, prevê associação
Não disponibilizar recursos para novos contratos e suspender a linha pró-cotista, como foi ventilado no mercado no início da tarde de ontem, poderia significar um tiro no pé da economia nacional, que ainda respira por aparelhos. Na avaliação do presidente da Associação dos Moradores e Mutuários de Minas Gerais (AMMMG), Sílvio Saldanha, interromper os financiamentos poderia adiar lançamentos e brecar, até mesmo, a geração de empregos.
“Interromper o crédito iria na contramão de tudo o que a economia precisa atualmente”, afirma Saldanha. A Caixa é responsável por 75% do financiamento imobiliário do Brasil.
Vale lembrar que em janeiro deste ano o Ministério das Cidades ampliou de R$ 650 mil para R$ 950 mil (em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) o limite máximo para contratação de financiamento pelo FGTS.
Pouco depois, anunciou o saque dos lotes inativos do Fundo de Garantia para movimentar a economia. O dinheiro sacado é o mesmo utilizado para financiar imóveis.
Em nota, a Caixa nega que os saques tenham afetado o crédito imobiliário. “A Caixa esclarece que não procede a informação de que o banco suspendeu o financiamento da linha pró-cotista por causa do pagamento das contas inativas do FGTS”, diz o texto.
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Ainda conforme a assessoria de imprensa, “a liberação das contas inativas foi analisada e estudada pela equipe técnica do governo federal. O saque das contas inativas por parte do trabalhador faz parte do modelo conceitual do FGTS e não fragiliza a capacidade de investimentos, autorizados pelo Conselho Curador do FGTS, nas áreas de Saneamento, Infraestrutura e Habitação”.
Fonte: Hoje em Dia