Entre as medidas sobre a mesa estão reduzir de 90% para 80% o total que pode ser financiado de um imóvel com recursos da poupança e manter a regra atual, mas com exigência de contratação de um seguro-garantia ou de margem maior de capital para os bancos que emprestarem mais
Para garantir que o crédito imobiliário continue crescendo com segurança no país, começam a ser formulados no governo estudos sobre medidas que possam detectar problemas no futuro, como monitorar a excessiva valorização dos imóveis. Também está no radar colocar um freio nos financiamentos com recursos carimbados, como a poupança e o FGTS.
Entre as medidas sobre a mesa estão reduzir de 90% para 80% o total que pode ser financiado de um imóvel com recursos da poupança e manter a regra atual, mas com exigência de contratação de um seguro-garantia ou de margem maior de capital para os bancos que emprestarem mais. Nas linhas do FGTS, que financia 100% do bem, uma das alternativas seria também diminuir o percentual para famílias com renda acima de cinco salários mínimos.
Embora defendida em conversas reservadas por técnicos do governo e representantes do setor privado, ainda não há consenso sobre se é preciso impor essa limitação porque o crédito imobiliário ainda é pouco representativo no país, e o déficit habitacional, elevado. Caso as medidas sejam adotadas, o comprador terá de dar uma contrapartida maior no fechamento dos contratos.
‘Não adianta agir depois que o problema estiver instalado’
Uma outra opção seria reduzir o prazo de pagamento dos financiamentos de 30 anos para 25 anos.
– Temos que aproveitar o tempo da bonança para evitar problemas no futuro. Ninguém está dizendo que existe bolha, mas não adianta agir depois que o problema estiver instalado – disse um técnico.
Segundo ele, as medidas não teriam impacto neste momento porque, na média, os bancos financiam menos que os 90% do valor do imóvel autorizados no caso da poupança, na casa dos 70%. Os prazos de pagamento ficam entre 15 e 20 anos, na maioria dos contratos.
Uma das preocupações do governo é com a alta nos preços dos imóveis, não só nas regiões metropolitanas, mas de forma generalizada, fora dos grandes centros urbanos, principalmente a partir de 2009. A alta acendeu o alerta de que é preciso ter um índice de preços para o setor – o que vem sendo negociado com o IBGE e com a Fundação Getulio Vargas (FGV). A FGV lançou na semana passada um índice, mas que só mede a rentabilidade dos imóveis comerciais e no qual a variação de preços é apenas um dos componentes.
Segundo dados do Sindicato da Construção de São Paulo (Secovi), entre janeiro de 2005 e novembro de 2010, os preços médios de lançamentos atingiram 62% na capital paulista, contra inflação pelo IPCA de 32%.
– É preciso investigar as causas dessa alta de preços – diz o economista Mailson da Nóbrega, da Consultoria Tendências.
Ele discorda, no entanto, da necessidade de se adotarem medidas com impacto direto para o comprador, porque “o Brasil está na infância do crédito imobiliário”. Disse, porém, que não ficaria surpreso se o Banco Central (BC) passasse a exigir dos bancos no futuro mais capital por empréstimo concedido.