Aumenta a procura de casas e diminui a de apartamentos. Famílias buscam o espaço e o isolamento que os prédios não têm para enfrentar o confinamento.
Há cada vez mais pessoas a desistirem dos apartamentos e a procurarem casas. A tendência surgiu durante a pandemia, que tem forçado muitas famílias a passarem mais tempo fechadas nos imóveis. A previsão de que o confinamento é para durar está a levar à procura de casas com espaço e isolamento sanitário que os prédios não dão.
A administrativa Cláudia Dias, que reside com o marido e filha num apartamento T3 nos arredores de Braga, é um exemplo. “Já tínhamos a ideia e o estar confinados aumentou a vontade. Se tivéssemos uma casa com espaço exterior, ao menos as crianças tinham mais liberdade com segurança”, conta, explicando que começaram a analisar o mercado em finais de março e aguardam que passe o Estado de Emergência para poderem realizar visitas presenciais, pois “fotos e vídeos não são suficientes” para tomar decisões.
Ar livre e teletrabalho
“O confinamento despertou a vontade de ter uma moradia. Agora estão famílias inteiras num espaço relativamente reduzido, que antes só servia para convívio ao fim de semana”, diz António Benjamim, mediador da Ville Real Estate, em Aveiro. “Para algumas moradias, que antes mal recebiam um contacto por semana, agora há contatos quase todos os dias”, relata. De acordo com António Benjamim, que apesar das restrições já conseguiu fechar alguns negócios, os clientes procuram “casas que tenham espaço ao ar livre” e com “pelo menos mais uma divisão, porque o teletrabalho e o estudo em casa criou essa necessidade”.
A ERA tem notado “um aumento da pesquisa por moradias no website em detrimento da procura por apartamentos”, confirma Rui Torgal, Diretor-Geral da imobiliária em Portugal. Entre meados de março e 22 de abril registaram 1,8 milhões de pesquisas, um aumento face aos 1,6 milhões realizadas entre fevereiro e meados de março.
O número de pedidos de informações sobre moradias aumentou “5% face ao período anterior à quarentena” e o dos apartamentos “desceu 6%”. Em causa, explica Torgal, estará a “situação de isolamento e confinamento social”, que “pode contribuir para um aumento da opção por espaços maiores e com mais liberdade de movimentação”.
Pelo facto de “se verem confinadas a um espaço fechado”, os clientes têm “apontado os seus critério de busca de imóveis para aqueles que têm espaços ao ar livre”, diz a Remax. “As pessoas procuram encontrar soluções para o futuro, dar mais importância a determinados pormenores que anteriormente não davam”, como “o acesso a espaços ao ar livre”, refere a imobiliária.
Falta finalizar
José Rodrigues, da Munditroca, em Braga, confirma a tendência, mas sublinha que a intenção ainda não se transformou em negócios concretos. “Vamos esperar que as pessoas possam sair e fazer visitas para ver se o interesse se vai traduzir em negócios ou não”, diz.
Na Região do Porto, o setor está “muito parado”. “Temos tido algumas abordagens, as pessoas dizem que têm um apartamento para permutar por moradia”, mas, seja devido “às restrições de visitas ou incerteza face ao futuro, as intenções ainda não se concretizaram em vendas”, relata Armando Januário, da Porto Real.
Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, considera que “ainda é cedo para tirar conclusões”.
Agora mostram casas por fotos e vídeo
As imobiliárias estão fechadas desde o estado de emergência, mas os corretores de imóveis continuam a trabalhar em casa, fazendo contatos por telefone e por email para dar informações sobre imóveis. Mostram fotos e vídeos das casas disponíveis aos potenciais interessados e agendam visitas para mais tarde. Alguns relataram ao JN que realizam visitas pontualmente, mas só a terrenos, casas devolutas ou que não estão a ser habitadas. Mesmo assim, essas visitas são feitas com máscara, luvas e desinfetante.
Fonte JN Portugal