“Avalanche” de lançamentos e volta da confiança estão no horizonte do mercado imobiliário

O mercado imobiliário, assim como outros setores, não passa ileso aos impactos da pandemia da Covid-19. Isso, no entanto, não tem abalado o otimismo dos especialistas frente ao cenário que se apresenta para o segundo semestre de 2020, que deverá ser embalado pelo volume de lançamentos e também pela efetivação de vendas.

Para o último quadrimestre do ano, por exemplo, 23% das construtoras e incorporadoras do país planejam manter seus calendários de lançamentos, enquanto 12% pretendem adiá-los em 60 dias. Em março, estes porcentuais correspondiam a 13% e 25% respectivamente. Chama atenção, também, a opção quase inexistente pelo cancelamento dos lançamentos (1%) – eram 2% em março. A maioria das 554 empresas ouvidas pela 3ª edição da pesquisa “Covid-19: impactos e desafios para o mercado imobiliário”, divulgada nesta quinta-feira (2) pela Brain Inteligência Corporativa em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), no entanto, sinaliza adiar os lançamentos por 120 dias A primeira impressão sobre os impactos que a pandemia poderia ter era a de que o mundo tinha acabado. Agora, percebemos que o mundo não acabou e as empresas começam a voltar a pensar em lançamentos a partir de julho”, avalia Celso Petrucci, presidente da Comissão de Indústria Imobiliária da Cbic e economista-chefe do Sindicato da Habitação (Secovi-SP). Ele lembra que, habitualmente, 40% do que é lançado no país é feito no primeiro semestre, enquanto 60% ocorre no segundo semestre. Para este ano, a previsão é a de 20% esteja concentrada no primeiro semestre e 80% no segundo.

Entre julho e agosto estamos prevendo o que vou chamar de ‘avalanche’ de lançamentos. Deve haver [muitas empresas] que estão segurando produtos esperando haver um pouco dessa adequação ao isolamento social para colocar o ‘bloco na rua’. Tenho a impressão de que vai ser surpreendente o que vai acontecer no segundo semestre”, projeta.

Os resultados em vendas, considerando as características do período, são outro ponto destacado pelos especialistas. Em junho, 75% das empresas ouvidas pelo levantamento relataram terem efetuado vendas já dentro do período da pandemia, com boa parte das negociações (84%) tendo sido iniciadas após 20 de março, ou seja, data em que várias cidades do país já contavam com medidas voltadas ao isolamento social.

“A conversão porcentual tem melhorado se comparado ao primeiro trimestre ou ao ano passado porque a chance de quem está procurando imóvel agora ser um especulador, que quer pesquisar preço, comparar, é bem menor. [É alguém que] realmente está precisando, querendo comprar o imóvel”, explica Guilherme Werner, sócio-consultor da Brain Inteligência Corporativa.

“Esse processo de pandemia acabou premiando todo mundo que acreditou na digitalização, na tramitação de documentos online. Quem ousou e acreditou nos lançamentos virtuais acabou se dando bem”, acrescenta Petrucci, destacando as vendas pela web como um dos legados positivos que vêm com a pandemia. “Acredito que vamos ter muitos lançamentos [no modelo] que estamos chamando de híbrido, ou seja, com o plantão de vendas com mais horas aberto, a cada avanço que exista no plano de retorno [às atividades], mas também virtualmente”, prevê.

Quem vai comprar?– mercado imobiliário

Após queda de 11% entre março e abril, quando mais da metade (53%) dos 600 entrevistados que desejavam comprar um imóvel no período pré-coronavírus, entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020, afirmarem terem desistido da compra, a intenção pela aquisição do bem voltou a subir neste último levantamento. 58% deles, que englobam respondentes em todas as faixas de renda, mantêm a decisão e superam, inclusive, os resultados de março, quando eram 55%.

Entre os 42% que abandonaram o objetivo, a perda de renda é a principal justificativa e responde por 41% entre os entrevistados com renda de até R$ 7.875. Para as famílias com rendas superiores, pesa mais a incerteza sobre a duração da pandemia, apontada por 44% deles.

Tais números elevam para 25% o grupo de pessoas que manifestam o desejo de adquirir o bem ante os 20% registrados em abril – tido como o piso do setor. Mesmo que positivo, no entanto, ele ainda está distante dos 43% que compunham o grupo no período pré-pandemia, segundo dados da terceira edição da pesquisa.

“É evidente que o nosso ano vai ser muito pior do que imaginávamos, porque prevíamos o melhor ano desde do boom. Mas temos que eliminar o pânico inicial, deixar ele para trás porque todos os indicadores para o nosso segmento são claramente positivos”, resume Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da Brain.

Fonte: Gazeta do Povo

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