SÃO PAULO – Apesar de faltarem menos de dois meses para o fim do ano, o mercado imobiliário residencial da cidade de São Paulo, que viu variações nas vendas durante o ano de 2010, projeta uma retomada forte e crescimento nestes últimos dias do ano, além de apostar em bons resultados também para 2011. Uma das expectativas do setor no Estado de São Paulo é que o novo governo da presidente eleita, Dilma Rousseff, reforce os investimentos feitos no programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida” – iniciado no governo de Lula e centrado na construção de moradias populares para diminuir o déficit habitacional do Brasil.
Entre cidades do interior paulista que apostam na expansão do programa do governo federal, está Jacareí, localizada a 80 quilômetros da capital paulista e que ganhou um reforço de R$ 33 milhões em investimentos para a construção de mais 535 unidades do programa “Minha Casa, Minha Vida”, sendo os imóveis destinados a famílias com faixa de renda de zero a 3 salários mínimos. Com isso, a cidade reúne 1.836 unidades habitacionais feitas pelo programa, com um investimento total de R$ 112 milhões.
Para as empresas do setor, o programa está contribuindo para a expansão dos negócios. Um exemplo é a Direcional Engenharia, que atua na cidade de Campinas e que divulgou recentemente um aumento de 51,3% do lucro líquido do terceiro trimestre, ante igual período de 2009 e que chegou a R$ 43,9 milhões. Nos meses de julho a setembro, 98,7% das unidades lançadas pela empresa em todo o País eram destinadas ao programa habitacional feito pelo governo federal.
O programa habitacional do governo federal deve manter o mercado imobiliário aquecido ainda por muitos anos. De acordo com Fábio Romano, diretor de Incorporações da Yuny Incorporadora, a expectativa é que o programa ainda dure muito tempo. “O déficit habitacional no Brasil é muito grande. O ‘Minha Casa, Minha Vida’ foi feito para durar muitos anos. É uma medida que vai sempre perdurar, já que existe muita demanda para a construção de residências no País”, explica o executivo.
Capital
Apesar de uma queda expressiva das vendas de imóveis novos em São Paulo no mês de agosto, quando as vendas foram 48,5% inferiores ao registrado no mês de julho, de acordo com pesquisa do Sindicato de Habitação de São Paulo (Secovi-SP), o setor imobiliário da capital não acredita em um impacto negativo para 2010, e confia que uma retomada do crescimento acontecerá nos meses que encerram o ano de 2010.
Responsável pelo estudo, o sindicato afirma que essas variações são normais e que mudanças significativas já foram observadas em outros momentos deste mesmo ano. Em comparação a janeiro, o mês de fevereiro, por exemplo, teve um crescimento de 89,5%, chegando a 2.858 unidades. No mês seguinte, março, as vendas atingiram 4.095 moradias, seguidas de uma queda de 21% no mês de abril. Em julho, as vendas de imóveis novos caíram 5,4% em relação a junho.
Segundo o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, essas variações não mostram uma tendência do mercado, mas algumas questões pontuais referentes aos meses em estudo. “Quem faz pesquisa mensal vê essas distorções que podem acontecer no mês a mês. O mercado está vendendo muito bem, e as vendas sobre oferta (VSO) estão maiores do que as do período de janeiro a agosto do ano passado”, explica.
De acordo com Petrucci, o mercado imobiliário residencial da cidade de São Paulo recebeu menos lançamentos em julho do que em agosto, mas a situação deve mudar nos próximos meses. “Fizemos sondagens com empresas para ver se isso seria revertido, e parece que sim. Parece que foi pontual”, explica, reforçando o sentimento de que a queda não indica uma tendência de desaquecimento do mercado.
Fábio Romano, da Yuny Incorporações, segue o pensamento do Secovi e afirma que a baixa registrada em agosto é apenas pontual e que mesmo assim o mercado segue em alta. “Este ano já foram lançados muito produtos, e tudo que é lançado está sendo vendido”, afirma.
A diretora de Relacionamento da Brev Soluções Imobiliárias, Cássia Castro, afirma que a venda segue em alta e o mercado ainda está aquecido. “Percebemos que a procura por imóveis está aumentando. Muitas pessoas estão conseguindo linha de crédito, têm dinheiro extra e uma condição financeira que favorece quem quer investir em imóveis”, explica ela.
Em relação ao mau desempenho registrado em agosto, Cássia aponta questões burocráticas para a queda expressiva registrada pelo Secovi. “Para aprovar um projeto em São Paulo é necessário um período de 6 a 8 meses. O incorporador compra o terreno e tem de esperar esse tempo para receber a aprovação da prefeitura. O que pode ter acontecido é que agosto se encontrou nesse timing entre a compra e a aprovação do projeto”, afirma. De acordo com a executiva, a compra de terrenos está em alta e a expectativa é de que continue a crescer em 2010, e o mercado deve seguir aquecido nos próximos anos.
De acordo com Alexandre Cardoso, presidente da Apoena Imóveis, a cidade de São Paulo enfrenta diversos problemas que podem prejudicar o desempenho do mercado imobiliário. “É difícil encontrar terrenos. Além disso, o Plano Diretor tem muitos erros. Isso faz as pessoas buscarem cidades próximas a São Paulo”, explica. O executivo reforça o sentimento positivo registrado pelo setor. “Mesmo assim, o mercado está muito bom e deve continuar aquecido por pelo menos mais cinco anos”, finaliza.
A construtora Cyrella, que recentemente divulgou dados relacionados ao terceiro trimestre do ano, quando registrou queda de 34,4% das vendas na comparação com as de igual período de 2009, também demonstra que o mau desempenho é apenas uma questão pontual.
Dados preliminares divulgados pela empresa indicam que em outubro foram feitos mais lançamentos do que o total registrado de julho a setembro.
Fonte: DCI