Preço e perfil de clientes de imóveis comerciais tendem a mudar no pós-pandemia

Ninguém sabe ao certo qual o “futuro” do mercado de imóveis comerciais ou empreendimentos empresarias depois da pandemia do novo coronavírus, da disseminação do home office em larga escala e da “descoberta” de que é possível trabalhar em casa, tudo isso aliado à crise econômica. Ao mesmo tempo o “mercado é o senhor de tudo”, sempre diz um especialista no ramo, afirmando em seguida que “tudo muda o tempo todo no mundo”. A tendência, porém, é que preços e o perfil dos consumidores mudem.

Apesar de admitirem as incertezas do futuro do segmento de imóveis comerciais, há ainda bastante otimismo no mercado imobiliário. “Ainda não sentimos a tão falada crise no mercado. Depois da parada nos dois primeiros meses da pandemia, reabrimos e encontramos um mercado bastante aquecido. Agora mesmo estamos confeccionando cinco contratos de venda. E trabalhamos com imóveis de alto padrão com maior valor agregado”, conta Fábio Meireles, sócio proprietário da Borges Realty Imobiliária. A corretora de imóveis Iolanda Matos, avalia que “para os donos das salas corporativas continua sendo um bom investimento ter esses espaços mesmo que a procura esteja menor, porque são investimentos seguros”.

Mas ninguém bate o martelo quanto ao futuro. Opinião unânime é que haverá impactos nos preços e mudanças no perfil dos clientes, o que vai demandar uma rápida adaptação das ofertas. Esta é a avaliação do presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis na Bahia (Creci), Samuel Prado, para quem a crise deve, sim, atingir o mercado de salas comerciais (aluguel e aquisição), mas longe de decretar o fim desse nicho. Para Prado, tudo é uma questão de oportunidade (de investimento), visão a longo prazo e uma boa assessoria imobiliária.

A corretora de imóveis Iolanda Matos analisa que os espaços de coworking e o home office já são uma realidade e tendem a continuar crescendo. Ela aponta que isso não quer dizer que é o fim das salas corporativas. “Algumas empresas precisam manter seu espaço, é uma coisa cultural. E traz outras vantagens como a maior integração entre os funcionários e a possibilidade de se ter um espaço para receber os clientes”, explica Iolanda. A opinião de Fábio Meireles é parecida. “Ainda não sentimos diferença, mas com a popularização do home office, a tendência é a busca por espaços menores. O que já está acontecendo é uma redução dos preços para conquistar locatários”, afirma.

“O consumidor precisa avaliar o melhor negócio, seja comprador ou vendedor. E, principalmente o corretor, que não pode pender para nenhum lado, precisa prestar a melhor consultoria. Hoje comprar pode não ser um bom negócio para mim, mas e para o meu vizinho? Tudo gira muito forte no mundo”, explica o presidente do Creci, Samuel Prado.

Tempo de descobertas

O presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi), Cláudio Cunha, avalia que o momento atual é de “descobertas”, ou transformações. “Ninguém sabia o que era o coronavírus, e fomos descobrindo juntos de acordo com as experiências de outros locais, que também pouco sabiam sobre o assunto. Com o isolamento, passamos a desenvolver tarefas que não fazíamos com frequência. Esse contexto, mais a reforma trabalhista que reconheceu o teletrabalho, tudo isso facilitou para que muitos desenvolvessem sua atividade de maneira remota, como publicitário, jornalista, advogado, arquiteto” diz. “E com a pandemia a gente se voltou ainda mais para casa, e esse espaço passou a ser de multitarefas, de trabalho, estudo, lazer, ginástica, interação com a família. Mas nem assim, isso deve se dar de forma definitiva”, completa.

Uma pesquisa da Ademi apontou que a maioria deve optar pelo chamado flexihome, que é você poder trabalhar de casa, mas ir uma, duas vezes na semana no escritório, para uma reunião de estratégia comercial, em que é preciso reunir uma equipe multidisciplinar. “Por outro lado, médico, oftalmologista, odontólogo, psicólogo, muito provavelmente uma outra gama sempre vai precisar de um local de atendimento”, afirma Cunha.

Por volta de 2013 e 2014, por exemplo, a venda dessas unidades estavam a pleno vapor não só na capital baiana, como em Lauro de Freitas, na região metropolitana. Mais ou menos por volta dessa época, pelo menos dois grandes produtos com salas corporativas de alto padrão foram lançadas, como o Hangar Business Park, e o Internacional Trade Center (ITC Salvador).

Desses empreendimentos, diz o presidente da Ademi restam pouca coisa à venda. Segundo Cunha, esses também foram os últimos biscoitos do pacote. “A partir de 2015 tem início uma crise econômica, política que durou praticamente até 2019. De lá para cá, não houve mais lançamento e as poucas unidades foram sendo absorvidas (pelo mercado). Hoje, a disponibilidade (de salas novas) é muito baixa”, diz o dirigente.

Expectativa positiva imóveis comerciais

O Hub Salvador é um dos espaços de coworking que teve que suspender as atividades devido a pandemia de Covid-19. Para Enzo Alves, gestor de comunidade do espaço, a expectativa para o futuro é positiva, pois ele acredita que as médias e grandes empresas passem a adotar também esses espaços como uma forma de mudar sua cultura organizacional.

Outra expectativa que o gestor tem para o futuro é de que as diferentes modalidades de trabalho coexistam e se alternem. “Já dá para pensar numa rotina que envolva um ciclo de alteração entre o home office, o coworking e as salas comerciais. Existe a possibilidade das três coexistirem e que as empresas passem a olhar a preferência ou eficiência do colaborador em determinado ambiente como um ponto de escolha”, explica Enzo.

Fonte: A tarde UOL

Deixe seu comentário