Os fundos mais defensivos que as ações de altos dividendos

Fundos imobiliários têm pouca relação com o mercado acionário e chegam a superar ações que pagam bons dividendos em certos casos

Jatobá: RB Renda Corporativa têm tido
correlação negativa em  relação ao Ibovespa

São Paulo – Não só de ações que pagam bons dividendos vive o investidor nesses tempos difíceis para a Bolsa. Se uma boa estratégia de longo prazo envolve ativos que gerem renda,conforme recomendam alguns especialistas, os fundos imobiliários vêm se revelando uma forma de complementar as ações defensivas na carteira de renda variável do investidor. Pouco ligados ao desempenho do Ibovespa, os fundos que investem em imóveis têm conseguido, até mesmo, vencer as ações que pagam bons dividendos em alguns casos.

Uma comparação elaborada com a ajuda de Arthur Vieira de Moraes, agente autônomo de investimentos e membro orientador do Instituto Nacional dos Investidores (INI), mostra que, nos últimos dois anos, alguns fundos de imóveis se mostraram menos relacionados ao Ibovespa do que o próprio Índice de Dividendos (Idiv) da Bolsa. E que seus ganhos também superaram os ganhos das ações defensivas, enquanto que o Ibovespa apresenta queda. Para a comparação, Vieira de Moraes escolheu três fundos com carteira diversificada, isto é, que não investem em um único imóvel ou não dependem de um único inquilino, o que minimiza os riscos. Veja na tabela abaixo:

Ativo Beta X IBOV* Cotação em 05/07/2010 Cotação em 29/06/2012 Variação (%)
Ibovespa (IBOV) 60.865 pontos 54.355 pontos -12,30
Índice de Dividendos (IDIV) 0,5 2.256,89** pontos 3.313 pontos 46,80
CSHG Real Estate (HGRE11) 0,11 R$ 1140,00 R$ 1.869,00 63,95
Rio Bravo Renda Corporativa (FFCI11) -0,01 R$ 1,33 R$ 1,97 48,12
Projeto Água Branca (FPAB11) 0,08 R$ 224,20 R$ 395,00 76,18

(*) Em um ano até 29/06/2012.
(**) Cálculo da BM&FBovespa a partir da carteira de ações que forma o índice, pois o IDIV estreou em 21 de junho de 2011.

A medição da volatilidade por meio do Beta mostra a relação entre a oscilação de cada ativo ou índice em relação ao Ibovespa nos últimos dois anos. Quanto mais próximo de zero, menor a amplitude da oscilação do ativo ou índice quando o Ibovespa oscila; Betas acima de zero mostram que o ativo e o Ibovespa têm correlação positiva, isto é, quando o Ibovespa sobe, o ativo em questão também sobe e vice-versa; Betas abaixo de zero mostram o oposto – que quando o Ibovespa sobe, o ativo em questão cai e vice-versa.

Conforme a tabela, os fundos imobiliários analisados são menos correlacionados ao Ibovespa do que o Índice de Dividendos da Bolsa, que reúne as ações com os maiores dividend yields nos dois anos anteriores à formação da carteira do índice. Ou seja, o desempenho dos fundos acompanha menos o desempenho do principal indicador da Bolsa do que o índice composto pelas ações mais defensivas, que são aquelas menos sujeitas ao sobe-e-desce dos mercados. Note que o fundo Rio Bravo Renda Corporativa teve, nos últimos dois anos, correlação negativa com o Ibovespa.

Em relação ao desempenho, todos os três fundos renderam acima do IDIV e do Ibovespa em dois anos. A intenção do levantamento, no entanto, não é colocar os fundos imobiliários como melhores investimentos do que as ações defensivas. Arthur Vieira de Moraes lembra que, embora sejam negociados em Bolsa, fundos imobiliários não têm nada a ver com ações – mas também são ativos de renda variável que podem compor, junto com as ações pagadoras de dividendos, a porção defensiva da carteira.

“O investidor em ações que também investe em fundos imobiliários melhora a qualidade da diversificação da carteira ao acrescentar outra classe de ativo ao portfólio, cujas oscilações não são diretamente relacionadas com o mercado de ações”, diz Vieira de Moraes. Ele lembra que os dividendos pagos pelas empresas e os aluguéis pagos pelos fundos têm algumas semelhanças interessantes para o investidor pessoa física: ambos são isentos de IR e, em muitos casos, corrigidos pela inflação.

Um levantamento recente feito pela Economatica mostrou ainda que a maioria dos fundos imobiliários mais líquidos teve desempenho superior ao Ibovespa, ao CDI e até mesmo ao ouro e ao dólar, que foram os dois ativos que mais se valorizaram, na média, no primeiro semestre. Veja na tabela abaixo (lembrando que o retorno ajustado exclui o ganho com dividendos e a taxa interna de retorno o inclui):

Ativo Código Retorno ajustado (%)* Dividend Yield (%)* Volume (em milhares de reais)* Taxa interna de retorno (TIR) (%)*
Hotel Maxinvest HTMX11B 40,28 7,93 449,6 42,16
CSHG Brasil Shopping HGBS11 38,53 4,82 169,3 39,70
Kinea Renda Imobiliária KNRI11 36,01 3,37 891,3 36,69
Hospital N. S. de Lourdes NSLU11B 32,26 6,13 110,9 33,95
CSHG Real Estate HGRE11 32,13 4,40 124,2 33,13
Europar EURO11 30,75 4,53 28,0 31,64
BC Real Estate Fund I BRCR11B 25,13 3,90 1.878,2 25,12
BM Cenesp CNES11B 22,73 4,75 130,5 22,66
Presidente Vargas PRSV11 22,05 4,42 143,5 21,91
Mercantil do Brasil MBRF11 20,35 5,02 73,1 20,28
RB Renda Corporativa FFCI11 19,22 4,23 155,0 19,20
Square Faria Lima FLMA11 18,51 4,33 16,6 18,82
BC FFII BCFF11B 17,80 5,39 359,0 17,49
Parque Dom Pedro PQDP11 14,78 4,37 81,8 15,52
XP Gaia XPGA11 14,21 5,27 308,2 15,22
Cidade Jardim BBVJ11 12,76 4,74 97,8 13,69
AESAPAR AEFI11 9,92 5,44 423,4 11,19
Ouro OZ10000 8,79 0,00 8,79
Floripa Shopping FLRP11B 7,92 5,60 102,8 8,87
Dólar Ptax Venda DOLOF 7,76 0,00 7,76
TRX Realty Logística Renda I TRXL11 6,72 3,90 197,6 6,70
BB Progressivo BBFI11B 5,36 4,74 227,6 6,63
CDI CDI 4,59 0,00 4,59
Excellence FEXC11B 4,30 5,05 185,0 4,27
West Plaza WPLZ11B -3,40 5,95 308,2 -2,90
Ibovespa IBOV -4,23 0,00 6.278.102,8 -4,23
RB Capital Prime Realty I RBPR11 -4,93 22,54 30,5 1,44
RB Capital General Shopping RBGS11 -10,54 4,25 52,2 -9,73
BB Renda Corporativa BBRC11 -11,18 1,02 62,6 -10,99

(*) No ano, até 29 de junho de 2012.
Fonte: Economatica.

Arthur Vieira de Moraes lembra, no entanto, que não se deve levar a tabela ao pé da letra como um ranking de rentabilidade, uma vez que o retorno de cada fundo pode se dever a fatores particulares que não necessariamente são positivos. “O Hotel Maxinvest, por exemplo, teve uma alienação grande de ativos, reduzindo seu patrimônio. Quando isso acontece, ocorre um retorno alto, mas não necessariamente sustentável ao longo do tempo”, diz o especialista. Entretanto, a tabela serve ao menos para mostrar que, no geral, os fundos renderam acima dos principais indicadores.

Além da diferença na volatilidade e no tipo de risco, ações defensivas e fundos imobiliários tem uma diferença também de tributação, que não deve ser esquecida pelo investidor. Embora os dividendos sejam isentos de IR em ambos os casos, a alienação das cotas dos fundos, bem como a venda das ações, não são. Acontece que a alíquota sobre o lucro com as cotas é de 20%, ao passo que para a venda de ações é de 15%, e apenas para vendas superiores a 20.000 reais em um único mês. Abaixo desse valor, a venda de ações é isenta.

Finalmente, é importante lembrar que fundos imobiliários também apresentam riscos.

Por: Julia Wiltgen
Fonte: Exame
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