Os bancos e o crescimento do crédito no Brasil

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Diz um conhecido ditado popular que o negócio mais lucrativo no Brasil é um banco bem administrado. O segundo melhor? Um banco mal administrado. Esta ideia (exagerada) de um ramo em que é impossível perder dinheiro tem origem no core business do sistema financeiro: emprestar capital e receber remuneração com juros. Um banco é a principal fonte de financiamento tanto para as empresas, que necessitam de dinheiro para realizar investimentos, quanto para as pessoas físicas. E é este movimento que faz girar a roda da economia.

Uma olhada nos balanços mais recentes dos bancos brasileiros mostra que o negócio vai de vento em popa. O Itaú registrou em 2011 o maior lucro líquido da história dos bancos brasileiros: R$ 14,6 bilhões, alta de 9,7% sobre o ganho do ano anterior. Um dos destaques foi o cidadão comum: a carteira de crédito para pessoas físicas cresceu 18%, para R$ 147,6 bilhões. Outro item reluzente no balanço são os financiamentos para o setor imobiliário: R$ 13,5 bilhões, alta de 66,7% no ano. Já o lucro líquido do Bradesco, por exemplo, somou R$ 11,028 bilhões, um aumento de 10% em relação a 2010.

Os resultados impressionam e demonstram que o apetite do Brasil por crédito só cresce. Neste ano, conforme estimativas do Banco Central, o volume de crédito disponível deve alcançar 51% do Produto Interno Bruto (PIB). Há nove anos, essa relação era de 24%. Na comparação internacional, o Brasil fica acima de membros do Brics, como Rússia e Índia, mas ainda abaixo de outros do mesmo grupo, como China e África do Sul. Entre os países do G-8, a proporção do crédito ao setor privado é ainda maior. Chega a 204% no Reino Unido, a 202% nos Estados Unidos e a 169% no Japão.
Parte da demanda por financiamentos tem origem na famosa classe média. Mais brasileiros querem trocar de carro, viajar para o exterior, comprar produtos eletrônicos e por aí vai. É preciso, portanto, muito dinheiro para levar adiante estes sonhos. Mas tudo tem um preço, e a conta, nestes casos, costuma ser salgada. No caso do cheque especial, em dezembro passado, segundo o Banco Central, a taxa anual de juros foi de 188%. Já para o crédito pessoal, o dinheiro emprestado pelas instituições financeiras sai mais em conta: em média, 48% ao ano.

O uso descontrolado de crédito leva a outro problema: a inadimplência. De acordo com a Federação de Bancos (Febraban), em 2011 o índice registrou 5,4% e, para este ano, a entidade projeta uma pequena redução nos atrasos, para 5,1%. O presidente da entidade, Murilo Portugal, afirmou recentemente em Londres que o aumento da inadimplência no ano passado ocorreu em parte como decorrência do aperto monetário realizado pelo Banco Central, com a introdução de medidas macroprudenciais, um cenário que já começou a ser revertido.

As instituições financeiras são os principais articuladores de financiamentos para os setores produtivos e para as pessoas físicas. Pelo lado dos consumidores, prudência na escolha dos prazos e organização financeira minimizam transtornos futuros devido à inadimplência. É assim em qualquer economia desenvolvida do planeta, e o Brasil segue o mesmo caminho.

Fonte: Jornal do Comércio / RS

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