De setembro de 2010 a setembro de 2011, 38 mil pequenos aplicadores deixaram a Bovespa
Sem paciência e sangue frio para acumular perdas, 38 mil pequenos investidores abandonaram a bolsa brasileira em um ano (setembro de 2010 e de 2011) e migraram para aplicações tradicionais – como renda fixa e imóveis. A fuga fez com que o percentual de participação das pessoas físicas na Bovespa atingisse o menor patamar em nove anos: 21,7%.
Neste ano, os pequenos investidores sacaram R$ 6 bilhões em ações, considerando compras menos resgates – conforme cálculos extraoficiais de analistas de mercado. Até 18 de outubro, a BM&F Bovespa somava R$ 5,4 bilhões de saída de recursos de pessoas físicas – a maior entre as seis categorias de investimentos.
– O aplicador físico normalmente sai no momento em que o mercado cai e entra quando está em alta. Faz justamente o movimento inverso do que deveria – avalia Emérson Lambrecht, analista de investimentos da Solidus Corretora de Valores.
Acostumados com sucessivos ganhos no mercado acionário desde 2003, investidores físicos chegaram a representar 31% das ações aplicadas na bolsa em 2009. No ano seguinte, porém, a maré constante de ganhos passou por uma reviravolta. O misto de decepção e ansiedade fez com que as aplicações tivessem outro destino.
– O investidor cansou de ver a bolsa cair e se voltou para imóveis e renda fixa, como CDB e poupança – aponta Eduardo Tellechea Cairoli, sócio-diretor da Privatto Investimentos.
Além dos investimentos tradicionais, aplicações com isenção fiscal (como fundo imobiliário, certificado de recebíveis e letras de créditos) atraíram investidores avessos ao risco. Porém, aqueles que decidiram testar os nervos podem começar a vislumbrar um novo cenário a partir dos resultados de outubro. No mês, encerrado ontem, a Bovespa teve ganho de 11,49% – melhor resultado obtido em um mês desde maio de 2009. Mesmo assim, o Ibovespa, composto por 65 ações mais negociadas no pregão, atinge perda de 15,82% no acumulado de 2011.
Oportunidade para quem é ousado
Se o investidor não tiver problema de conviver com oscilações do mercado acionário, o período de queda pode ser o mais indicado para compra de ações. Conforme o sócio-diretor da Geração Futuro, Wagner Salaverry, uma das alternativas para quem vê o momento como uma oportunidade é fazer carteiras em dividendos, normalmente mais estáveis – em setores como energia elétrica e financeiro.
– A fuga neste momento é muito mais por medo do que por oportunidade de ganho – avalia Salaverry.
Projetando um horizonte a curto prazo, analistas acreditam em uma recuperação da bolsa brasileira ainda neste ano, impulsionada pelas medidas em favor da estabilização da economia na Europa. A médio prazo, em torno de dois anos, a expectativa é de uma retomada ainda maior.
Apostando nisso, o publicitário Carlos Alberto Brito Jr., 29 anos, preferiu deixar parados os R$ 7 mil aplicados em papéis da Petrobras, da Vale e num fundo de ações – mesmo após ter acumulado perdas desde 2009.
– Pensei várias vezes em tirar da bolsa e aplicar em renda fixa ou Tesouro Direto, mas resolvi esperar um pouco mais, para tentar recuperar o prejuízo – conta Brito.
Fonte: Revista Pense Imóveis