Invisto R$ 1 milhão ou compro um imóvel?

Investidor está em dúvida se usa o patrimônio para comprar uma residência ou se mantém o dinheiro aplicado

Pergunta do internauta: Uma pessoa que tenha 1 milhão de reais aplicado em fundo DI e em CDB de banco de primeira linha e que more em um imóvel de um terceiro que gera 4.000 reais de despesas mensais com aluguel, condomínio e IPTU deveria comprar um imóvel ou é financeiramente mais interessante permanecer nessa situação?

Resposta de Luiz Calado*

As leitoras e os leitores devem invejar esta dúvida! Afinal de contas, você tem 1 milhão de reais na conta e comprar um imóvel só depende da sua vontade. Sua questão é: do ponto de vista das finanças, vale a pena deixar de receber uma renda para ter uma casa própria a fim de economizar com o valor do aluguel?

O senso comum, que inclui a pressão diária do companheiro (ou companheira) e familiares, recomenda a compra. Se estivéssemos em 2007, esta também seria minha sugestão. Com os preços no patamar baixo da época, além de economizar com o aluguel, você ainda teria um ganho de capital por conta da valorização do imóvel.

No entanto, alugar ou comprar é uma decisão que gera polêmica, mesmo entre os especialistas. Se perguntar hoje para aquele seu amigo que lucrou com a alta recente ou para um corretor de imóveis, o que você esperaria ouvir?

Eu recomendo que você não compre por conta de três indicadores: baixo preço atual do aluguel, forte alta dos últimos anos e perda de liquidez. Considere três pontos:

1 – O reajuste do valor do aluguel não acompanhou com a mesma intensidade a alta dos preços dos imóveis, o que gera uma vantagem financeira para quem aluga em vez de comprar. Vale dizer que manter seus investimentos permitirá pagar o aluguel e ainda aumentar o seu patrimônio investido.

2 – É pouco provável que o preço dos imóveis continue subindo tanto, considerando a alta significativa nos últimos cinco anos. Isso reduz o seu potencial ganho de capital. Afinal, não podemos ignorar que os preços do mercado imobiliário são cíclicos: períodos de forte alta, são obrigatoriamente seguidos de estabilização ou queda nos preços.

3 – Imprevistos acontecem. Manter todo o seu patrimônio num único bem o obrigará a vendê-lo caso algo vá mal. Com o dinheiro investido, caso necessite, você terá uma ótima reserva para usar.

Manter seu dinheiro investido é a atitude financeira recomendada, mas sabemos que a decisão de compra de um imóvel é também emocional, e, para a maioria das pessoas, ter um imóvel próprio é sinônimo de segurança e de um sono tranquilo. Assim, se por questões não-financeiras, sua opção for mesmo por comprar um imóvel, recomendo que aceite algo num padrão inferior ao atual, para que seja possível manter uma reserva no banco. Assim, você terá o imóvel e ao mesmo tempo manterá uma reserva no banco.

Afinal de contas, quando tudo dá errado, como nos EUA em 2008, bancos quebram, há perda de dinheiro inclusive nos investimentos menos arriscados e, pior, aumenta o desemprego. Nesta situação, uma coisa é certa: você não vai poder morar dentro de um CDB ou de um fundo DI.

Recomendo ainda a leitura de minha resposta anterior sobre se vale a pena comprar um imóvel no Rio de Janeiro.

*Luiz Calado é economista, doutorando em finanças sustentáveis e autor dos livros “Imóveis: seu guia para fazer da compra e venda um grande negócio” e “Fundos de investimento: Conheça antes de investir”.

Fonte: Exame

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