Cresce mobilização por áreas verdes em SP

Com áreas verdes cada vez mais escassas em São Paulo, paulistanos de diferentes regiões têm se mobilizado para evitar que elas deem lugar a espigões. Abraços coletivos a terrenos, coleta de assinaturas e pressão junto a órgão oficiais se tornaram comuns na briga para evitar que o mercado imobiliário leve a melhor. E o argumento costuma ser semelhante: para que adensar, poluir e levar mais trânsito a áreas já tão saturadas?

A tentativa é a de reverter uma lógica histórica na cidade que é a da destruição da natureza para a ocupação humana. Dados da Prefeitura indicam que apenas 14 das 31 subprefeituras de São Paulo conseguem superar o mínimo de área verde recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – 12 metros quadrados por habitante. E boa parte do verde que sobrou se encontra em extremos, como a Serra da Cantareira, ou em condomínios fechados.

A recente decisão do prefeito Gilberto Kassab (sem partido) de vender 20 terrenos para construtoras deu ainda mais força aos movimentos. Um dos imóveis que mais causam mobilização é o Quarteirão da Cultura, no Itaim-Bibi (zona sul). O terreno de 20 mil metros quadrados – o equivalente a dois campos de futebol – tem oito equipamentos públicos, entre eles biblioteca e teatro, e mais de 40 espécies vegetais, segundo o Movimento em Defesa do Quarteirão da Cultura SOS Itaim-Bibi.

A área está avaliada em R$ 140 milhões e teve a venda autorizada pela Prefeitura no dia 6. Mas, a pedido dos moradores, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) estuda um pedido de tombamento da área, o que por enquanto impede a venda. Segundo o coordenador do movimento, Helcias de Pádua, a vegetação contribui para a qualidade de vida e os equipamentos são imprescindíveis para os moradores da região e os de outros bairros.

Além do Itaim, há outras áreas que causam mobilização na cidade. A Mooca, na zona leste, abriga pelo menos duas áreas polêmicas. A Praça Alfredo di Cunto, conhecida como Praça das Flores, é um dos terrenos que serão vendidos pela Prefeitura. Um abraço coletivo, organizado pela associação Amoamooca, demonstrou ontem a insatisfação.

“O sistema de captação de chuva é o mesmo, o de esgoto é o mesmo, as vias são as mesmas. Só diminui o que precisamos, que são áreas que tragam qualidade de vida”, resume Pedro Felice Perduca, da associação de moradores. Na manhã de ontem, cerca de 30 moradores deram as mãos dentro da praça. “Foi um ato simbólico e uma retomada da força do bairro em brigar pelos interesses da comunidade.”

Também na Mooca, um imóvel de 4,5 mil metros quadrados na Rua Padre Benedito Maria Cardoso mobilizou os moradores de um condomínio de 17 edifícios. Eles colaboram para a manutenção do espaço desde 1949. Em 2010, a área foi vendida pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Os moradores lutam pelo tombamento.

Augusta – Se a venda dos terrenos pela Prefeitura exaltou os ânimos neste ano, a disputa em torno de um imóvel na Rua Augusta é bem mais antiga. Desde 2005, vizinhos tentam evitar que uma área de 24 mil m² entre as Ruas Caio Prado e Marquês de Paranaguá, na Consolação, seja tomada por construções – primeiro de um supermercado, depois de um condomínio. Em 2006, houve o primeiro abraço coletivo; em junho deste ano, foi feito um piquenique.

“Defendemos espaços de convivência ao ar livre. As pessoas vivem em suas jaulas”, diz o produtor de teatro Sérgio Carrera, de 53 anos, que se arrisca a comer os abacates que aparecem na área em disputa na Augusta.

Já são mais de 20 mil assinaturas a favor da construção do parque. Em 2008, Kassab chegou a decretar a área de utilidade pública para a criação da área verde, mas ela ainda não saiu do papel.

Carrera avalia que o movimento por parques em São Paulo reflete novo paradigma. Há 10, 20 anos, pensava-se no desenvolvimento; hoje, no planeta.”

História – Segundo o professor da USP Nestor Goulart dos Reis Filho, autor do livro São Paulo Vila Cidade Metrópole, São Paulo era no passado uma área de campos entremeada por bosques. E muitos dos bairros que atualmente levantam bandeiras por áreas verdes cresceram utilizando-se de desmatamentos. Um exemplo é a próprio eixo da Avenida Paulista – Vila Mariana, que era um bosque. Paradoxalmente, acrescenta, esses desmatamentos foram facilitados, entre outros motivos, porque quem vinha do interior para a cidade queria distância daquele cenário.

Por Márcio Pinho

Fonte: O Estado de S.Paulo

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