Era uma vez, um lugarzinho no meio do nada, com sabor de chocolate, cheiro de terra molhada…. Opa não era pra começar assim, mas até que casou sabe?! Na parte cheiro de terra molhada…. Mas era cheiro de mofo mesmo, sim mofo de parede, de umidade, sabe aquele que vai criando quando a casa não tem muita ventilação e fica úmida? Quando tem alguma infiltração, nossa dá uma dor de cabeça danada porque rola doenças respiratórias né, a famosa bronquite nas crianças é batata! Mas porque tô falando disso?
Na histórinha de hoje vamos falar de uma família que tinha esse problema, ou tem ainda não sei, o caso é… Quando iniciei no mercado imobiliário sabia que ia conhecer todo tipo de pessoa e enfrentar dificuldades de fechamento nas vendas como qualquer outra profissão comercial, mas não imaginei que seria um aprendizado atrás do outro, que levaria a outro, e a outro e mais outro, tão rápido, tão escrachado, como as pessoas são diferentes! Todo mundo sabe disso mas vou te contar nessa área vemos as diferenças gritando na forma de pensar e de viver a vida, uau penso comigo essa aí tá certinha, quero ser como ela, adquiro pra mim, absorvo, ou nossa essa aí não tá com nada, vou anotar pra não fazer o mesmo nunca, e vamos vivendo.
Um casal queria muito ficar junto, os dois trabalhavam, estavam namorando a algum tempo e iam casar num futuro próximo, um belo dia foram surpreendidos com um belo e apavorante positivo nas mãos, o que aconteceu? Casório, e casa como vai ser? A Sogra liberou um quartinho, um puxadinho que estava parado nos fundos, só tinha um problema, o mofo.
Ahh aquele mofo não tinha quem desse jeito, ele já era o dono maior do quartinho, mas tudo bem, sabe aquelas coisas que a gente resolve depois? Então, tinha coisas mais urgentes pra resolver…Passou casório, mudança, primeiro mês deram um jeitinho no mofo, parece que resolveu…. segundo mês, terceiro, sexto mês e puts vamos mexer de novo parece que voltou o problema. Bebê nasceu, quanta saúde benza Deus! todos felizes, mas parece que a maternidade não é só glória não é mesmo? Alguns conflitos típicos de se morar num quintal com outras casas começaram a aparecer, e o bebezinho, tadinho começou a ficar doente.
Meses de vida e lá vai pra hospital cuidar de resfriados a cada 20 dias, além de tudo tem que aguentar as caras feias da vizinhança porque ninguém dormiu na noite passada com um bebezinho chorando, stress porque vai começar mais um quebra quebra na tentativa de encontrar a infiltração que causa o mofo, a sogra? Só quer saber do quintal limpo e nada de lavar roupa tarde da noite porque o barulho da máquina incomoda, se vira, lave roupa das 14h às 15h, horário permitido e não use todos os varais!
Bom gente, não resta outra alternativa do que comprar o cantinho deles né? Com tanta oferta de apartamentos baratos, minha casa minha vida, entrada baixa, parcelas de R$ 300,00… (Kevinho cê acredita?) não é possível que seja tão difícil, foram conhecer. Olha que coisa, a proposta era num bairro um pouquinho distante do atual onde moravam, mas quase encaixava no bolso, faltou pouco.
Quem entra na jogada pra fazer o gol? O pai da moça, aquele pai fofo que trabalhou a vida inteira e tem um fgts guardadinho lá, chegou a hora de usá-lo, ele não tinha entrada pra ajudar a filha porque já havia gastado tudo no casamento mas tinha o FGTS, como já conquistou sua casinha não pensou duas vezes pra entrar no financiamento e ajudar a ela com a quantia. Uffa, que pai fo#*, eles estavam muito empolgados, tanto que enviaram documentação no mesmo dia, com alguns percalços burocráticos como acontece às vezes demorou uns 15 dias pra sair a tal aprovação.
Aprovados! Sim, conseguiram uma boa aprovação e o banco liberou exatamente o valor que precisavam, a conta fechou! Essas são aquelas horas que o corretor fica com o tú na mão por causa de um valorzinho baixo mas que pode ser fatal e impedir o cliente de comprar se não sair como se esperava.
Foram, conheceram o decorado, o terreno, o bairro já conheciam, mas deram mais uma olhada, perfeito! É isso que queremos e isso que precisamos, e agora? Corretor feliz, todo mundo feliz, precisamos rodar o contrato, quando fica bom pra todo mundo vir assinar? Segunda feira, folga do papai, marcamos pós expediente comercial, imaginei que seria um daqueles dias que saio meia noite do stand, e assinatura? o coisa que demora!
Mas não foi bem assim, no terceiro dia desse combinado mandei uma mensagem confirmando o horário, recebi a seguinte resposta: Oi, então, vamos deixar pra outra semana, meu pai não conseguiu folgar, boa noite. Xiii, quando começa com então depois do oi…..já era, pode anotar, tentei remarcar novamente e recebi dois dias silêncio seguidos de: Então, pensamos melhor e agradecemos muito a sua dedicação, sempre disposta a nos ajudar, mas não vamos fechar, optamos por comprar por aqui no nosso bairro, moramos aqui desde que nascemos né não queremos ir pra outro lugar, mesmo sendo ótimo esse outro bairro, até gostamos bastante de lá, mas não.
Eu perguntei sobre essa ideia de comprar no bairro que moravam, não tinha projetos a venda lá, e não existia hipótese alguma de haver no futuro porque o bairro não tem infraestrutura para isso, mesmo que houvesse (chance nula) teria de ser um sistema de financiamento acessível a realidade deles, que era bem apertada e com ajuda de Deus a conta havia fechado para aquela oportunidade. Ela me respondeu que iria aguardar um lançamento minha casa minha vida dentro do bairro deles, mas não queria ficar longe do pai.
Mas e o mofo?
Isso aconteceu a dois anos atrás, na semana passada liguei pra essa cliente e perguntei como estavam, sempre me lembro daquele bebezinho, indo sempre pra hospitais e daquela moça me contando as humilhações que recebia por parte da sogra, hoje ele está com bronquite crônica, e a sogra teve um AVC a alguns meses mas está se recuperando bem, foi só um susto. O esposo e ela estavam ótimos, quando perguntei sobre a compra do apartamento ela disse que, como acabou não comprando nada, fizeram um puxadinho do puxadinho, agora são dois cômodos, ainda fica bem apertado, mas pelo menos estão perto do pai.
E o mofo continua lá, indo e voltando, o mofo é um ciclo vicioso que não leva ninguém a lugar nenhum. Tem raízes afetivas demais.
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