Após um primeiro semestre para esquecer, marcado por prejuízos inesperados, revisões de custos e redução de projeções, à sombra de vendas menores, construtoras e incorporadoras juntam os cacos para lidar com um cenário de indefinição.
Embora resultados operacionais preliminares já tivessem apontado um momento conturbado no segundo trimestre, as demonstrações financeiras mostraram um resultado ainda pior.
“Os números em geral foram ainda mais fracos que o esperado na maioria das empresas… seguimos cautelosos com o setor”, disse o analista Guilherme Rocha, do Credit Suisse, citando a necessidade das empresas provarem aos investidores que não irão enfrentar mais surpresas negativas nos próximos trimestres.
A líder do setor PDG Realty teve prejuízo líquido de 450,1 milhões de reais no período, decorrente em grande parte de ajustes de custos. Executivos da companhia afirmaram que isso não deve ocorrer novamente, mas também não está descartado.
“Ainda que excluídas as revisões de custos, os resultados da PDG foram mais fracos que o esperado”, assinalou a equipe do Itaú BBA. Além da revisão, a PDG reduziu a previsão de entregas de unidades este ano para entre 28 mil e 30 mil, contra 34 mil a 35 mil antes.
Já a Brookfield Incorporações fez um ajuste de orçamento, que foi ampliado em 316,9 milhões de reais no trimestre passado, o que impactou o ganho líquido e ocasionou prejuízo de 383,5 milhões de reais.
A empresa reduziu ainda as projeções de lançamentos e vendas para 2012, agora na faixa de 3 bilhões a 3,5 bilhões de reais, contra perspectiva anterior que definia os pontos médios de ambos os itens em 4,5 bilhões e 4,2 bilhões de reais, respectivamente.
A Rossi Residencial também fechou o segundo trimestre no vermelho, com prejuízo de 9,1 milhões de reais, contabilizando um aumento de custos de obras de 51 milhões.
O atraso na entrega de imóveis, provocado por questões burocráticas, foi apontado por boa parte das companhias nas teleconferências com analistas como um dos principais problemas.
Segundo as companhias, as entregas vêm sendo atrasadas não apenas pela demora para obtenção do “Habite-se” –documento liberado por prefeituras que permite a ocupação do imóvel– mas também pela lentidão dos cartórios de registro de imóveis, cujos prazos chegam a ser duas ou três vezes maiores que o de costume.
De todo modo, as companhias afirmaram em coro que a segunda metade de 2012 será mais favorável para o mercado imobiliário, considerando as estratégias já em curso de priorizar a venda de estoques e reduzir as operações em parceria com terceiros.
“Esperamos que a taxa atual de crescimento do setor, apesar de menor, resulte em perspectivas mais saudáveis para o longo prazo”, afirmou o presidente da Brookfield, Nicholas Reade.
RECUPERAÇÃO
Embora de forma generalizada os resultados tenham deixado uma nuvem de incertezas, algumas companhias já conseguiram colher os frutos de reestruturações colocadas em prática.
A Cyrela Brazil Realty teve lucro líquido de 143 milhões de reais no segundo trimestre, alta de 48,9 por cento ante igual período de 2011, com aumento de receita e redução de despesas administrativas, após simplificar suas operações.
A MRV Engenharia fechou o período com lucro líquido de 145 milhões de reais, 23,4 por cento menor no ano a ano, mas com consumo de caixa de apenas 1,8 milhão de reais no segmento residencial, ante média trimestral em 2011 de 147 milhões de reais.
“Cyrela e MRV decepcionaram na linha do lucro (por diferentes razões), mas mostraram bons níveis de consumo de caixa”, afirmou a equipe de analistas do Itaú BBA.
A Gafisa, por sua vez, teve lucro inesperado no segundo trimestre, de 1 milhão de reais, revertendo prejuízo de 31,8 milhões de reais um ano antes e iniciando uma fase de recuperação após uma série de trimestres consecutivos de perdas.
“As empresas mostraram confiança em melhores margens e fluxo de caixa mais forte no segundo semestre, especialmente a MRV e, em menor extensão, a Cyrela”, afirmaram os analistas do JP Morgan, em relatório.
Por Vivian Pereira
Fonte: Reuters