De acordo com investigadores, a milícia determina onde deve ser a compra de material de construção na comunidade. Em janeiro, cinco pessoas foram presas por vários crimes na região, entre eles, grilagem de terra e construção de prédios.
A milícia controla o mercado imobiliário e a compra e venda de materiais de construção nas comunidades da Muzema e Rio das Pedras, ambas na Zona Oeste do Rio. Nessas comunidades, o morador é obrigado a comprar material na loja dos milicianos, como mostrou o RJ2 nesta sexta-feira (12) após o desmoronamento de dois prédios que deixou mortos, feridos e desaparecidos na Muzema.
O Ministério Público do Rio teve acesso a escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça, que revelam como os milicianos negociavam os imóveis construídos ilegalmente na comunidade.
Nas investigações, os promotores descobriram que Manoel de Brito Batista, conhecido como Cabelo, seria responsável pelo controle das lojas de material de construção da organização criminosa.
Cabelo é apontado como braço-direito do chefe da milícia, o major da PM Ronald Pereira, preso em janeiro com outras cinco pessoas na operação Os Intocáveis.
Algumas transcrições das escutas reveladas pela reportagem mostram, por exemplo, que a quadrilha cadastra os relógios de luz em nome de laranjas.
Em um dos trechos, Manoel Cabelo conversa com um homem que o chama de ‘patrão’ e pergunta sobre o relógio de um dos imóveis.
Na interceptação, Manoel responde: “Bota qualquer diabo aí”
Em outra gravação, os promotores apontam a utilização de força e demonstração de poder dos criminosos.
Manoel fala com um homem e pergunta sobre o aluguel de uma inquilina. Ele diz que se ela não pagar, é para não deixar a moradora entrar na casa.
Venda de imóveis na internet
Mesmo com todas as irregularidades, os apartamentos são oferecidos livremente na internet. Um dos anúncios é de um dos prédios que desabou.
O apartamento era vendido por R$ 75 mil com uma entrada de 40 prestações de R$ 1 mil. Com sala, dois quartos, banheiro, cozinha e varanda, o imóvel tinha 55 metros quadrados.
Testemunhas contam que apartamentos na comunidade são liberados antes mesmo de concluídos.
“Fiz um documento no cartório simples. E pelo preço e pela ocasião eu até já sabia que a documentação, Registro Geral de Imóveis, essas coisas iam ser difíceis, mas eu acreditei na obra, que parecia ser bem feita, as estruturas são bem feitas, então eu acreditei e para também tirar os meus parentes do aluguel”, disse um morador, que preferiu não se identificar.
Mercado imobiliário x material de construção
A investigação do Ministério Público revelou que, além do mercado imobiliário, os milicianos detêm o controle em todas as obras da comunidade e na vizinha Rio das Pedras.
Usando laranjas, o grupo também comanda o comércio de material de construção. Os milicianos impõe aos moradores que quiserem fazer qualquer obra ou reforma que o material seja comprado nas lojas indicadas por eles.
De acordo com os promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público estadual do Rio, uma dessas lojas é a Construrio, inaugurada em novembro, na principal avenida da Muzema.
Além desta loja, o MP diz que outras duas empresas têm ligações com a milícia: São Félix e São Jorge.
Fonte: G1