Os governos federal, estadual e municipal têm que assumir o compromisso de manter, cuidar e proteger os cartões postais.
Quanto custa morar ao lado de uma paisagem reconhecida como Patrimônio da Humanidade? Depois de ganhar o título da Unesco, alguns dos principais endereços do Rio de Janeiro podem ficar ainda mais valorizados.
No Rio de Janeiro, muitos passageiros costumam escolher o caminho do taxi de acordo com a paisagem. “Pela praia. Não tem outro caminho, né?”, diz um taxista.
A rotina estressante do motorista de ônibus é aliviada pelo lado de fora da janela. “É só ficar tranquilo e relaxar”, acrescenta um motorista.
Quem vive de abastecer os veículos dos outros não descuida da própria energia. “Quando dá um intervalozinho a gente observa a natureza, um pouco.”
Assim como o frentista, o vendedor de coco trabalha onde a maioria só está de passagem: “Aqui é muito bom. Não é qualquer um que tem um escritório como esse, de frente para o Pão de Açúcar.”
Paisagens que sempre estiveram presentes nos cartões postais do Brasil. Foi o cenário que fez o Rio ser aprovado como Patrimônio da Humanidade. Agora, com o título, a responsabilidade pela preservação aumentou. Os governos federal, estadual e municipal têm que assumir o compromisso de manter, cuidar e proteger esses lugares.
Há um ano e meio, o marido da francesa Estelle foi transferido para o Rio. A família tinha que escolher um lugar para morar. Depois de uma pesquisa na internet, ela se apaixonou pela foto da praia de Copacabana. “Eu vi a vista e disse: você deve escolher esse apartamento”, lembra.
Lá, o valor dos imóveis varia entre R$ 5 milhões e R$ 15 milhões.
O que a Unesco acaba de anunciar, o mercado imobiliário do Rio já reconhece há muito tempo. Quem quer morar de frente para uma paisagem paga até 50% a mais pelo imóvel do que o vizinho do mesmo prédio que não tem esse privilégio. Parece muito, mas quem banca a diferença não reclama.
“Ao chegar no apartamento, a primeira coisa que ela vai é se debruçar na janela para olhar o visual que ela tem. Depois olha os outros cômodos”, conta o diretor de marketing imobiliário Márcio Pegado.
Sútmi, as duas filhas e o marido vivem em um apartamento de quase 50 metros quadrados perto do Cristo Redentor. A vista da janela é a mesma do quadro que decora a sala. Foi a paisagem que definiu a compra do imóvel.
“O privilégio de a gente ter essa mata atlântica dentro da cidade, o Cristo, é algo que é impagável”, define. “A gente ama essa vista.”
ANDRÉ TRIGUEIRO
Fonte: G1/Jornal Nacional