Fortaleza e o Estado do Ceará, continuam a surpreender positivamente pelas oportunidades de negócio que veem proporcionando a micro, pequenos e médios empresários de outras latitudes.
Ainda há dias assisti, num posto de combustível daqueles que têm wi-fi na “lanchonete” de conveniência, a um diálogo acalorado impercetível mas com muita enfatização gestual, entre portugueses, espanhóis e italianos, utilizando vernáculo do português falado no Brasil, mas com acentuados sotaques das suas várias origens.
Mais do que suscitar incríveis e hilariantes momentos, esta cena simboliza muito do que hoje é Fortaleza; um “melting point” de recém – licenciados e pós – graduados, quadros técnicos, empresários, empreendedores e praticantes de várias modalidades de surf, principalmente oriundos da Europa mediterrânica.
Numa deslocação profissional que fiz acompanhado de parceiros locais ao município de Beberibe para avaliação comercial de uma propriedade em loteamento, pude constatar para além da beneficiação da infraestrutura rodoviária, a beleza natural de muitas das praias do litoral cearense como a do Uruau.
Enquanto em muitas regiões do litoral, imensos parques eólicos já fazem parte da paisagem, foi recentemente anunciado neste Estado, o desenvolvimento de uma parceria entre o meio universitário e investidores privados, para o aproveitamento da energia solar com significativa incorporação de recursos locais.
Este é um bom exemplo de como fazer, para aproveitar as inúmeras oportunidades de negócio que surgem a todo o momento. Mas neste Brasil onde tudo aparenta ter condições para dar certo, porque vão falhando certos projetos de investimento estrangeiro, particularmente em mercados como o turístico e o imobiliário? Porque falham negócios, num mercado imobiliário em que até 2020 o deficit habitacional é de 20 milhões de casas e está prevista a construção de 2 milhões de casas do programa “ Minha Casa, Minha Vida” para as famílias de mais baixos rendimentos, em que cresce a demanda (procura) por segunda habitação, num mercado turístico que cresceu 130% nos últimos 3 anos, num mercado como o das franquias em que de acordo com recentes declarações de Steve Caldeira, presidente da IFA (International Franchise Association), o cenário de negócios é favorável, com enorme potencial de crescimento e em que 37 marcas de origem norte-americana já iniciaram suas operações de expansão no País. Um misto de soberba, incompetência de gestão e inadequação dos recursos financeiros investidos aos recursos financeiros efetivamente necessários. Soberba? Porque os “gestores” e empresários envolvidos não procurarem parceiros locais conhecedores da legislação, da burocracia, do mercado de atuação e facilitadores da obtenção de crédito.
Qualquer tipo de financiamento e operação bancária que envolva empresários estrangeiros, sem histórico e “rating” no País, é muito difícil e complicado. Qualquer banco, vai querer saber o histórico das pessoas envolvidas e das suas empresas e conhecer as projeções do negócio, pelo que uma parceria com investidores brasileiros é a primeira condição de sucesso. Soberba? Porque os gestores e empresários envolvidos, avessos à mudança das suas rotinas, práticas e procedimentos, não se esforçam por conhecer as diferentes culturas regionais, limitando-se a aplicar modelos importados dos seus Países de origem. Incompetência da gestão? Por desconhecerem as especificidades do negócio que pretendem desenvolver ou que se comprometeram a gerir, dos mercados locais em que pretendem atuar e por total ausência de um rumo estratégico.
No Brasil, mais do que em qualquer outro lugar do Mundo, é preciso pensar global e agir local. Todo o produto e serviço tem de ser adaptado para atender às necessidades não satisfeitas dos mercados mas simultaneamente toda a expansão do negócio tem de atender ao “timing”, à complexidade legal e à carga burocrática do meio envolvente. Inadequação dos recursos financeiros investidos em relação aos recursos financeiros necessários? Como já referimos o financiamento a empresários estrangeiros é difícil.
É necessário dotar-se dos capitais próprios necessários e adequados ao financiamento da montagem e operacionalização do negócio e conhecer a fiscalidade brasileira para que não se comprometa irremediavelmente o sucesso da operação e o futuro repatriamento de parte dos capitais investidos.
Também projeções irrealistas, quanto aos investimentos efetivamente necessários, timing de implementação do negócio, períodos de retorno de Investimento e “pay-back”, entre outros indicadores financeiros, podem “ferir de morte” os projetos de investimento estrangeiro no Brasil.
Mas sobretudo acrescentaria um último fator essencial e crítico do sucesso de qualquer operação. É necessário estar aqui com paixão e alma, é preciso deixar-se seduzir por este turbilhão de emoções e oportunidades, chamado Brasil.
É preciso amar esta Terra e acreditar que um País desenvolvido é um País sem miséria. Entretanto para o lado de lá do oceano, deixo uma sugestão aos decisores e aos “fazedores de opinião”.
Que se aproveitem estes tempos difíceis em que nada parece existir para além do plano de ajustamento económico e financeiro, para planejar e efetivar com o rigor orçamental que o momento impõe, programas consistentes de reabilitação urbana e de reordenamento do território.
A recuperação da economia portuguesa irá depender, entre outros fatores, da atratividade e competitividade das suas cidades e metrópoles. Urge voltar a pensar futuro em Portugal.
Fonte: Jorge Garcia, Especialista em Imobiliário