Após alcançar picos no número de lançamentos imobiliários há dois anos, o mercado paulistano vive agora o crescimento dos estoques – em outras palavras, os imóveis excedentes, não vendidos pelas incorporadoras ou devolvidos pelos compradores durante o período de construção. Esse tipo de produto tem algumas vantagens para o consumidor. As maiores são o preço e o poder de barganha na compra.
De acordo com dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), 23.404 unidades foram lançadas em São Paulo no segundo semestre de 2009, 69,1% a mais do que o desempenho da cidade cinco anos antes. Muitos dos imóveis apresentados ao mercado naquela época estão sendo entregues este ano pelas empresas, interferindo no acréscimo dos estoques no mercado paulistano.
“Essa é uma oportunidade. Na mão do incorporador, o estoque é prejuízo. Então, o consumidor tem opções para negociar”, diz o diretor da empresa de inteligência de mercado Urban Systems, Paulo Takito. Na falta de opção para modificar os produtos, diz ele, as incorporadoras precisam ceder. Surgem daí condições de pagamento mais adequadas e descontos generosos.
Algumas incorporadoras de capital aberto, que tiveram uma injeção significativa de recursos nos últimos anos por causa dos IPOs (sigla inglesa para designar a oferta pública inicial de ações na Bolsa de Valores), têm maior oferta, segundo o empresário Antônio Settin, de uma incorporadora de capital fechado batizada com seu sobrenome. “Por isso, elas realizam saldões”, diz.
Tradicionalmente, companhias como Even, Rossi e Camargo Corrêa reservam alguns dias para superpromoções de alguns de seus produtos, com descontos chegando a 30%. “Elas sacrificam muitas vezes a margem de lucro. Trata-se de um efeito colateral da abertura de capital”, opina o diretor de novos negócios da imobiliária Abyara Brasil Brokers, Bruno Vivanco.
Ele acredita que esses eventos contribuam para a redução do ritmo de comercialização de lançamentos. “Só o fato de ter diminuído a velocidade de venda já pode indicar que o consumidor esteja escolhendo essa opção. Ou mostra que ele está pesquisando mais antes de comprar.”
Os empresários do setor, no entanto, negam haver níveis preocupantes de sobras de unidades. De acordo com o diretor executivo da incorporadora You, Inc, Eduardo Muszkat, alguma margem de estoque não compromete os negócios. “Com 85% das unidades vendidas, o produto está resolvido”, diz.
Outros executivos, como o diretor executivo da Kallas, Roberto Gerab, esperam haver concorrência principalmente para investidores que compram os bens na planta para revendê-los. “Eles vão querer sair (do negócio) enquanto a construtora baixa preços para liquidar estoques. “
Publicidade. Vivanco explica que muitos compradores desconhecem os estoques porque a maior parte dos recursos de marketing dos empreendimentos é gasta durante a fase de lançamentos. Em geral, os imóveis passam à condição de remanescente após o início das obras, quando os estandes de vendas são parcialmente desmontados.
De olho nas oportunidades desse mercado, o corretor José Luis Ribas criou uma empresa especializada na divulgação de estoques e na captação de clientes. “O portal Homes4less é uma vitrine para os empreendimentos”, explica o empresário, que encaminha os possíveis clientes para 15 incorporadoras parceiras e ganha uma comissão na venda dos bens. Para os consumidores cadastrados, também oferece uma restituição do valor pago, negociado caso a caso. “Esse é meu diferencial porque não tenho custos de uma imobiliária. “
O designer Paulo Selke, de 50 anos, cadastrou-se no site durante sua busca por um loft na zona sul da cidade. Além da restituição oferecida , ele vê com contentamento a possibilidade da ocupação imediata do bem. “O lançamento (comprado na planta) sempre tem um risco.”
Fonte: Estadão